Costa com mais contestação na rua

‘As expetativas foram-se e os problemas não se resolvem’, diz Ana Avoila. Sindicalistas falam em aumento da contestação social

Costa com mais contestação na rua

A paz social foi um dos maiores trunfos de António Costa no início do Governo que conta com o apoio da esquerda. A forte contestação às medidas de austeridade aplicadas pelo Executivo de Passos Coelho desapareceu com a chegada da geringonça. Costa não perde uma oportunidade para se gabar do «clima de distensão, descrispação e paz social» que se vive no país, mas os sindicalistas garantem que a contestação está a aumentar. 

«Está à vista que existe mais contestação», diz Ana Avoila. A coordenadora da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública garante que a contestação ao Governo terá tendência para crescer, porque «as expectativas foram-se e os problemas não se resolvem». 

A sindicalista admite que os trabalhadores «criaram alguma esperança» com a solução de esquerda, mas o Governo está a mostrar-se incapaz de resolver os problemas «fundamentais» dos trabalhadores da Administração Pública. «É natural que a contestação vá aumentando. Os professores fizeram greve. O Governo não está a cumprir nada. Os médicos estão em confronto, os enfermeiros estão em polvorosa, os guardas-prisionais a mesma coisa…». 

O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, já tinha avisado que «este é o momento para que o Governo possa refletir sobre o aumento da contestação social em Portugal». Arménio considerou que «a estagnação ou falta de resposta do Governo a problemas dos trabalhadores está a gerar descontentamento e a originar o aumento da contestação social». 

José Abraão, dirigente da Federação Sindical da Administração Pública afeta à UGT, também considera que o Governo e os partidos que o apoiam criaram «grandes esperança, mas o que é verdade é que fica muito aquém daquilo que eram as expectativas». Abraão não tem dúvidas de que existem «maiores movimentos de contestação e protesto que vão continuar ao longo de 2018». O sindicalista garante que, “se não houver resposta aos problemas concretos, o protesto e a contestação vai crescer em 2018. Não podemos todos estar dependentes daquilo que o ministro das Finanças considera muito importante para o cumprimento dos objetivos europeus».

Médicos, enfermeiros e professores descontentes

Os médicos vão fazer greve nos dias 10, 11 e 12 de abril. A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) justifica a paralisação «face à incapacidade do Ministério da Saúde em garantir os diversos compromissos já assumidos». Os médicos reivindicam a revisão da carreira e das grelhas salariais dos médicos, tendo por base o regime das 35 horas semanais. Os enfermeiros fizeram greve esta semana. José Carlos Martins, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, contestou «a brutal carência de enfermeiros» no Serviço Nacional de Saúde. Os professores também estiveram em greve, depois de não terem chegado a acordo com o governo. 

Os trabalhadores do Metro de Lisboa já ameaçou fazer greve no dia 19 de abril se até lá não chegar a acordo com o Governo. Anabela Carvalheira, da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, garante que continuam «muitos comboios parados por falta de manutenção e os que andam a circular acabam também por não ter a manutenção necessária». Os trabalhadores dizem ainda, em comunicado, que desde 2009 que não tiveram «um cêntimo de aumento» e garantem estar disponíveis para «uma negociação credível».