Vodka e bananas

O Governo preferiu aliar-se àqueles que em Portugal sempre estiveram do lado errado da história. 

Uma atitude frouxa perante uma agressão forte revela fragilidade. Foi esta a posição em que Portugal se colocou no plano internacional perante a condução dúbia do Governo português na sequência do caso Skripal.

O Governo português não expulsou diplomatas russos como fizeram quase todos os aliados da NATO e parceiros da União Europeia na sequência do envenenamento do espião russo no Reino Unido, optando por chamar a Lisboa o Embaixador português em Moscovo. Trata-se de uma atitude tímida que revela uma posição dúbia. No caso da Rússia é um sinal de condescendência perante um Estado que tem, vezes demais, desrespeitado os Direitos Humanos e o Direito Internacional. Neste incidente Portugal optou por não ficar, de forma inequívoca, ao lado dos seus aliados e parceiros. O Governo português demonstrou fraqueza, falta de solidariedade e um preocupante condicionamento político que deixa em aberto, para o futuro, a possibilidade de alteração da posição de Portugal face aos compromissos internacionais políticos e militares.

Perante este cenário, o Governo português podia ter justificado a sua posição, podia tentar refugiar-se nas dúvidas perante os indícios. No entanto, afirma-se solidário com o Reino Unido e com as decisões dos seus aliados, mas é incoerente na atitude.

A questão que se poderia colocar, no contexto nacional e internacional, é a do que ganha Portugal com esta atitude e que razões estão na origem desta posição do Governo português. Sabemos o que não ganha: não ganha no plano económico, pois as relações económicas não são determinantes e, sobretudo, dependem mais do contexto das relações com a União Europeia, e não ganha no plano político, porque não existem afinidades particulares no contexto das relações internacionais.

Mas sabemos também o que Portugal perde: perde no relacionamento com os seus parceiros e aliados visto que, pela primeira vez na história, não esteve pronta e inequivocamente do seu lado. E perde, especialmente, no plano dos princípios da defesa e do respeito pelo direito internacional.

O que está em causa é a fundada suspeita de um ato criminoso em vários planos: o assassínio de uma pessoa, o facto de ter sido cometido em território estrangeiro e a utilização de uma arma química proibida internacionalmente. Trata-se de mais um caso revelador de um padrão de comportamento que se tem manifestado através de recorrentes violações do Direito Internacional.

O Reino Unido tem sido, ao longo da história, o nosso mais permanente aliado, ao qual se juntam a generalidade dos países da NATO, organização de que Portugal beneficia em termos da segurança internacional, e dos países da União Europeia com quem mantém fortes ligações políticas e económicas. Uma aliança militar como a NATO pressupõe corresponder com apoio quando ele é requerido para garantir esse mesmo benefício quando dele se necessitar. No caso da União Europeia, é através da sintonia de posições que se reforça a importância política.  

É muito significativo (e preocupante) assistir em Portugal ao suporte a esta posição dúbia do Governo português por parte dos partidos que têm mostrado condescendência (e, em alguns casos, apoio) a regimes que vigoram em países como a Venezuela, a Coreia do Norte e, agora, a Rússia.

O Governo português parece ter preferido aliar-se àqueles que sempre estiveram do lado errado da história em Portugal. Trata-se de um precedente cujas consequências apenas o futuro revelará. Está nas mãos do Governo corrigir o caminho e optar por uma posição responsável e coerente com o passado do Partido Socialista.