Viagens de finalistas. Jovens com segurança apertada

Depois dos incidentes trágicos de outros anos, os finalistas são agora vigiados por câmaras, seguranças e monitores. Como prevenção, a GNR realiza ainda uma operação policial denominada “Spring Break”

As viagens de finalistas estão associadas ao consumo excessivo de álcool e drogas pelos milhares de jovens portugueses que todas as férias da Páscoa rumam a Espanha para festejar o fim do ensino secundário. Para prevenir os comportamentos de risco, a GNR realizou uma operação policial a que deu o nome de “Spring Break”. Depois dos episódios trágicos que mancharam as viagens de finalistas, como a morte de dois jovens na sequência de quedas da varanda do hotel, em Lloret de Mar, em 2010 e 2012, também as agências organizadoras destas excursões optam por medidas de segurança apertadas.

De 19 de março a 12 de abril está a decorrer uma operação policial da GNR “envolvendo ações de sensibilização em todo o território nacional, junto da comunidade escolar, e de fiscalização, nas fronteiras terrestres de Vilar Formoso, Caia e Vila Real de Santo António, com o objetivo de prevenir a adoção de comportamentos de risco inerentes ao consumo de droga e álcool, por parte da população jovem que se desloca nesta altura do ano para o sul de Espanha e Catalunha em férias escolares”, de acordo com um comunicado.

Numa primeira fase, que aconteceu de 19 a 23 de março, militares da Escola Segura realizaram ações de sensibilização junto de 10 mil jovens, em 230 escolas de todo o país, alertando para os comportamentos de risco associados a estas viagens.

Paulo Poiares, tenente-coronel da GNR, explica ao i que estas ações são muito importantes, porque “muitos jovens vão viajar pela primeira vez sem controlo parental e, no grupo, muitas vezes cometem excessos que podem ter efeitos nocivos para a saúde”.

As ações de sensibilização são feitas numa perspetiva de diálogo e troca de ideias e pretendem que os jovens desenvolvam o processo de decisão, para que façam as escolhas certas. “Falamos das drogas que existem, o que é o próprio conceito de droga e os efeitos para a saúde. Procuramos também alertar para as normas de segurança que devem cumprir na ida para um país estrangeiro como, por exemplo, terem contactos de emergência e manterem-se sempre com o grupo”, explica Paulo Poiares.

A segunda fase da operação “Spring Break”, que decorreu de 23 de março a 2 de abril, consistiu em ações de fiscalização junto às fronteiras, em coordenação com a Guardia Civil, “no sentido de detetar a prática de ilícitos associados ao consumo de substâncias estupefacientes, bem como de garantir as condições de segurança dos veículos que irão transportar os jovens”, refere o comunicado da GNR.

O tenente-coronel esclarece que a segunda fase da operação continua a ter como objetivo principal a sensibilização, mas de uma perspetiva diferente. “Na primeira fase, a sensibilização é feita no contexto das salas de aula e numa perspetiva de diálogo, e na segunda fase é numa perspetiva de fiscalização. Contudo, o objetivo principal não é a detenção dos jovens que tenham um comportamento contrário à lei. A ideia é sensibilizá-los para os efeitos nocivos do consumo de drogas e é por isso que são alertados para a possível existência de fiscalização aos autocarros”, explica Paulo Poiares.

Jovens arriscam Apesar dos alertas e de serem informados de que os autocarros podem ser fiscalizados, há jovens que arriscam. No ano passado, a GNR apreendeu nos autocarros dos finalistas 51 doses de haxixe, uma pessoa foi detida por tráfico e foram passadas três contraordenações por consumo de drogas.

Este ano, os dados – ainda que provisórios – indicam um número menor. Paulo Poiares afirma que houve seis casos de jovens que foram detetados com pequenas quantidades de haxixe. Os processos ainda estão a decorrer, mas os estudantes em questão deverão ser encaminhados para a Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência (CDT).

Quanto aos 110 autocarros inspecionados pela GNR, em coordenação com a Guardia Civil espanhola, o tenente- -coronel afirma que “foi um número reduzido de jovens que tentaram fazer o transporte de substâncias quer para consumo quer para disponibilizarem a outros que, se calhar, numa situação normal não consumiriam”.

Paulo Poiares explica que os jovens “são muito criativos e arranjam vários recursos para tentar transportar a droga”, mas normalmente costumam esconder as substâncias dentro das bagagens.

Na operação policial deste ano, além dos já habituais cães treinados para a deteção de estupefacientes, foi usado um sistema de raio-X que permite ver o que está dentro das malas e perceber se há algum elemento suspeito.

Na terceira fase da operação policial, que começou a 26 de março e decorre até 8 de abril, militares da GNR “realizam ações de fiscalização em estabelecimentos comerciais no âmbito da venda de álcool e produtos estupefacientes a adolescentes e jovens adultos”. Segundo Paulo Poiares, esta terceira fase é feita em todo o território nacional, mas com maior incidência nas zonas do Algarve e Setúbal.

Vigilância apertada Mil e oitocentas câmaras de vigilância, 300 a 400 seguranças, cerca de 500 monitores e uma equipa médica da Cruz Vermelha estão espalhados por Marina d’Or, esta semana, para garantir a segurança de sete mil jovens portugueses que escolheram este destino para a viagem de finalistas.

José Ferreira, da agência Sporjovem, explica que Marina d’Or é um complexo turístico privado, na província de Castellón, e, como tal, tem um sistema de videovigilância, com câmaras monitorizadas 24 horas por dia, à exceção dos quartos de hotel e casas de banho. “Isto funciona como prevenção. Assim conseguimos controlar todas as zonas onde os jovens se movem”, refere o responsável.

Os jovens apenas saem do complexo turístico para as excursões opcionais promovidas pela Sporjovem. “Fazemos três saídas, uma a Valência, numa perspetiva mais cultural, outra ao parque PortAventura, em Salou, e outra às Cuevas de San José. Nestas saídas, os jovens são acompanhados por monitores”, esclarece José Ferreira.

O complexo turístico de Marina d’Or tem também uma empresa de segurança privada que, durante esta semana – em que não há turistas –, está centrada na vigilância dos finalistas. A empresa de segurança trabalha em coordenação com a polícia local. “Em Marina d’Or é normal ver-se polícia na rua, mesmo quando nada de anormal está a acontecer”, conta o responsável da Sporjovem.

José Ferreira afirma que todas as normas de segurança são uma ferramenta de auxílio para o bom funcionamento da semana. Além disso, é algo que os pais dos jovens finalistas valorizam. “Estou convencido que será uma das razões que os levam a aceitar que os filhos participem nesta viagem”, argumenta.

*Texto editado por Vítor Rainho