A choradeira no PSD e a bebedeira no CDS

Se Cristas se impôs como uma líder forte, também é verdade que o CDS está a passar por uma fase de bebedeira coletiva

Rui Rio poderia ser um génio e iria sempre ser recebido com agressividade pelos restos do passismo, pelos apoiantes de Luís Montenegro, e por um grupo relevante de sociais-democratas que nunca aceitou como ‘um dos seus’ o antigo presidente da Câmara do Porto. Não foi em vão que Rio se recusou a avançar tantas vezes, nomeadamente quando deu lugar a Manuela Ferreira Leite, convencido que a ex-líder do PSD seria mais bem recebido pelo aparelho do partido. Mas acontece que Rui Rio não é um génio: vai fazer dois meses que é presidente do PSD e até agora não há nada de relevante a assinalar. 

É um facto que nunca é fácil ser líder da oposição, quer no PS, quer no PSD. Mas, no caso de Rui Rio, chegamos ao extremo de ver o primeiro-ministro e a secretária-geral adjunta do PS a defenderem-no publicamente dos ataques internos de que tem sido alvo. Um feito inédito na política portuguesa que mostra o à-vontade socialista e a euforia que percorre o Rato ao ver Rio como líder da Oposição. 

A fraqueza de Rui Rio tem levado o Governo e o PS a privilegiarem o CDS como o verdadeiro partido da Oposição, uma coisa que lhes dá imenso jeito e também parece dar imenso jeito aos centristas. 

Se é verdade que Assunção Cristas se tem imposto como uma líder forte, sucedendo a um líder carismático como Paulo Portas e somando vitórias (de que a de Lisboa é emblemática), é também evidente que o CDS parece estar a sofrer de uma bebedeira coletiva. No congresso do mês passado, houve um excesso de euforia com pouca ou nenhuma adesão à realidade. O facto de Assunção Cristas ter decidido, a um ano e meio das eleições, anunciar que já se ‘via como primeira-ministra’ – Portas costumava utilizar este expediente num dos últimos comícios da campanha eleitoral – pode criar entusiasmo nas hostes, mas também um excesso de expectativas que acabam por ser muito más para o CDS no dia das eleições. 

É verdade que os partidos desaparecem e a Europa está cheia de exemplos. Mas não é nas próximas legislativas que o PSD vai desaparecer e dar ao CDS a liderança da Direita. A choradeira no PSD está a provocar uma bebedeira no CDS. Mas uma bebedeira é uma ilusão, um divertimento que pode colocar em risco valores mais altos como credibilidade e ‘noção’.