Falta paixão às empresas

EDP, CTT e PT são marcas que foram de sinceridade, afeto e carinho. Cabe aos atuais acionistas fazer com que os colaboradores e clientes continuem apaixonados

Ninguém esquece a primeira vez. Uma estreia em algo que nunca fez, com sensações inéditas de cumplicidade e afeição. Desejo e fascínio com travessuras e  burburinho num ingénuo desconhecido da primeira carta que chegava pelos correios, do telefone que tocava ansioso ou da luz que se apagava, desavergonhada, no momento certo.

Fizeram a nossa primeira vez. Namoriscámos, apaixonámo-nos e acabaríamos por casar. O tempo passou e percebemos que, apesar do encanto não ter sido em vão, essas marcas já não tinham a mesma magia.  

Diziam os slogans que a EDP tinha a energia que nos une, mas agora já não está nas nossas mãos; que os CTT – antes também TLP –, levam o mundo até nós, só que atualmente, tiram dividendos e já não participam investindo, como prometiam na campanha; que a PT do Vá lá Telefone, com os amigos brasileiros, tudo (não) ficou melhor, como garantia o spot da Oi. Ironia do destino, revisitar as campanhas publicitárias de cada uma destas marcas é contar-lhes a sua triste sina da última década, pelo menos.

Mesmo assim, os portugueses continuam a olhar para a EDP, os CTT ou a PT como se ainda lhes pertencessem. E pertencem. São marcas que em tempos foram de sinceridade, afeto e carinho – marcas que lhes fizeram a primeira vez. Cabe, por isso, aos seus acionistas uma grande responsabilidade: fazerem com que os colaboradores e clientes continuem apaixonados.

Tom Peters, especialista norte americano na gestão de empresas, dizia que era capaz de entrar numa empresa e em quinze minutos saber se os colaboradores estavam satisfeitos ou não. Saíria deprimido se visitasse algumas das maiores empresas portuguesas.

O Conselho Consultivo, agora criado pela Altice Portugal, com João Proença e Silva Peneda,  vai tratar do desenvolvimento dos recursos humanos e mediar as relações laborais da empresa de Telecomunicações. Não sei se Armando Pereira, o português que comprou a PT percebeu que a marca era tóxica e, para salvar a empresa e os que lá trabalham, teria que matar a marca-mãe deixando as marcas-filho. Nem sei se algum dia Armando Pereira leu In Search of Excellence, editado em português com o título Vencendo a Crise, mas seguiu a fórmula mágica do autor: para salvar uma empresa e transformá-la num caso de sucesso basta, tão só, tratar os clientes como convidados e os trabalhadores como pessoas.

Raquel Soares
Diretora da Faculdade de Ciências Sociais e Empresariais da Universidade Europeia