Pára-quedista ferido na República Centro-Africana

Os “capacetes azuis” avançaram sobre o bairro PK5, em Bangui, para desmantelar grupos armados

As forças armadas portuguesas destacadas na República Centro-Africana voltaram a ser novamente atacadas no decorrer de uma operação no âmbito da missão das Nações Unidas no país. Um pára-quedista ficou ferido.

Ao início da madrugada deste domingo, um destacamento militar da Missão da ONU, composta tanto por militares portugueses (120) como de outros países, cercou e entrou no bairro PK5, no 3º distrito de Bangui, com o objetivo de tomar de assalto edíficios e zonas controladas por um grupo armado. No decorrer dos confrontos, que apenas terminaram por volta das 6h da manhã, um pára-quedista ficou ferido por estilhaços de granada na omoplata direita.

Em declarações à RTP, o porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas, o comandante Coelho Dias, afirmou que o pára-quedista “sofreu ferimentos ligeiros”, situação que permite ao militar continuaçar a missão, não sendo necessário retornar a Portugal para receber tratamento médico. Ainda assim, no decorrer de ontem esperava-se que desse entrada no hospital para observação médica. 

No decorrer da operação militar foram detidos quatro elementos do grupo e destruídos vários veículos, a que se acresce a apreensão de armamento e material diverso, anunciou o EMGFA em comunicado. 

Não é a primeira vez que os militares portugueses destacados no países no âmbito da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA) entram em confrontos com os grupos armados, de orientação muçulmana, que desde 2013 ameaçam a estabilidade do país. No início do mês, uma patrulha de 60 militares foi subitamente atacada “com tiros de armas ligeiras por elementos de um grupo armado”, ao mesmo tempo que bloqueavam o percurso da patrulha com carros, segundo um comunicado do Estado-Maior das Forças Armadas. No confronto, que durou quase quatro horas, não se registou nenhuma baixa de ambos os lados. O grupo armado utilizou como escudos humanos mulheres e crianças, dificultando a resposta dos militares, obrigados a fazer “fogo controlado” e a largar gás lacrimógeneo. 

O contingente militar português no país é composto por 149 militares. Destes, 21 chegaram ao país em fevereiro e os restantes no início de março. 

Violência em crescendo

Nas últimas semanas os grupos armados têm demonstrado crescente vontade em dificultar a vida dos “capacetes azuis”, depois da missão os ter ameaçado desmantelar caso não entregassem as armas. Na terça-feira passada, 3 de abril, uma base da MINUSCA em Tagbara, a nordeste da capital, foi atacada por volta das 5h da manhã. Depois  de várias horas de tiroteio, o ataque saldou-se com um elemento da missão morto, outros 11 feridos e 22 membros da mílicia anti-balaka abatidos. 

A violência no país tem aumentado desde 2016, com grupos armados a disputarem entre si e o governo zonas inteiras por recursos naturais, nomeadamente diamantes, gado e ouro. O governo centro-africano limita-se a controlar uma zona limitada do território. 

Desde a sua independência, na década de 60, que a República Centro-Africana tem assistido tanto à ascensão de ditadores como à sua deposição por golpes de Estado. A última crise nacional, uma das razões da atual incapacidade governamental em fazer frente a estes grupos, remonta a 2013, quando o presidente, General François Bozizé, foi deposto por uma coligação de rebeldes, mas também de traficantes de diamantes e contrabandistas.