Teremos sempre Ferreri para as chuvas de abril

“A Grande Farra” já se foi. E prestes a terminar está também a edição de Lisboa de mais uma Festa do Cinema Italiano, mas só em parte. Que Marco Ferreri, realizador desaparecido há 21 anos e ao qual foi dedicada a grande retrospetiva deste ano, continuará pela Cinemateca Portuguesa até ao final de abril. Boa…

O Leito Conjugal (1963)

Um quarentão a casar-se com uma mulher mais nova que, nunca satisfeita sexualmente, o atira para o canto é o ponto de partida para esta fábula sobre uma guerra de sexos que marcou o regresso de Marco Ferreri a Itália, depois de um início de carreira em Espanha. Obra com que encetou a renovação da comédia italiana, mais do que instalada naquele início da década de 1960, ao mesmo tempo que oferecia já um primeiro passo para a fábula grotesca que viria, ao longo da década seguinte, a tornar-se uma das características essenciais da sua obra. Com este filme, Marina Vlady recebeu o prémio de melhor atriz em Cannes.

Hoje às 18h30

El Cochecito (1960)

Recuo no tempo até aos anos de Espanha para aquele que foi o segundo filme de Marco Ferreri, logo depois de “El Pisto”. Produzido por Pere Portabella e escrito por Rafael Azcona, que se tornaria colaborador regular do realizador italiano, para a história de um septuagenário que parece disposto a tudo – até a fazer-se passar por inválido – para conseguir uma cadeira de rodas motorizada. Um filme em que, mais do que noutros, se expõem as ligações entre o universo do realizador italiano e o de Luis Buñuel, e que marca o fim do seu período espanhol, antes de regressar a Itália.

Amanhã às 18h30

L'Uomo Dei Palloni (1968)

“Break Up”, no título em inglês, foi por várias vezes censurado. Primeiro no sentido literal, por várias cenas consideradas inconvenientes, depois reduzido a 25 minutos pelo próprio produtor, sem o conhecimento de Ferreri, e transformado num episódio de “Oggi, Domani, Dopodomani”. Acabaria por ser reconstituído mais tarde para uma versão mais próxima da inicialmente proposta pelo realizador, de 68 minutos, que corresponde à que será agora exibida na Cinemateca Portuguesa. A história é a de um industrial que enche balões com o propósito de testar o seu limite. 

Amanhã às 15h30

La Donna Scimmia (1964)

A equilibrar-se entre “o riso e a amargura” está este que é considerado um dos maiores sucessos da primeira fase da carreira de Marco Ferreri. Ugo Tognazzi interpreta aqui um empresário circense do séc. XIX que descobre uma “mulher macaca” (Annie Girardot) num convento e parte com ela em digressão por freak shows de toda a Itália, num filme para o qual, em conjunto com Rafael Azcona, de novo, coargumentista do filme, se inspirou numa história verídica e que foi em 1964 selecionado para a competição oficial do Festival de Cinema de Cannes. Na Cinemateca, o filme é exibido em cópia digital. 

Quarta-feira às 18h30

La Cagna (1972)

Regresso ao universo buñueliano para aquele que os programadores da Cinemateca destacam como “um dos mais singulares”filmes da obra de Marco Ferreri, “La Cagna” será tanto um olhar sobre uma civilização como, de novo, uma parábola sobre as relações de poder esgrimidas entre o masculino e o feminino – isto a partir da história de um pintor isolado numa ilha junto à Córsega – Marcello Mastroianni – que se vê envolvido numa relação de contornos obsessivos com uma mulher que chega à ilha, Liza (Catherine Deneuve). Daí “Liza, a Pecadora” como título para a versão portuguesa deste filme de 1972.

Dia 16 às 18h30;
repete dia 17 às 15h30

A Última Mulher (1976)

Obcecado com o retrato da tensão das relações entre homens e mulheres, aí há de regressar Ferreri em “A Última Mulher” (“La Dernière Femme”, no original francês). Título impossível de ignorar, nem que seja pela célebre – na altura, polémica – cena de automutilação de Gérard Depardieu, que aqui interpreta Gérard, um homem que a mulher deixou por motivações feministas e que vê a custódia do seu filho de nove anos ameaçada pela sua nova – última? – mulher. Ornella Muti, a “mais bela mulher do mundo” como a frígida Valérie.

Dia 17 às 21h30;
repete dia 19 às 15h30

Adeus Macho (1977)

Depois de nos ter contado a história de uma mulher macaca (“La Donna Scimmia”), vem esta de um homem que encontra uma cria de chimpanzé numa feira abandonada para decidir criá–la como quem cria uma criança. Rodado em Nova Iorque mas numa “visão da cidade bem distinta da habitualmente dada por cineastas americanos”, “Adeus Macho” é uma das mais icónicas obras de Marco Ferreri, que é agora pela primeira vez exibida na Cinemateca. É também um dos melhores exemplos do universo surrealista que foi criando o realizador ao longo dos anos. 

Dia 19 às 18h30; 
repete dia 23 às 19h00

A Carne (1991)

Já nos primeiros anos da década de 1990 e numa fase em que a sua carreira tinha decaído, veio Ferreri com este que seria um dos seus últimos filmes. Ainda assim, veio “A Carne” como mais uma “observação distorcida e absurdista” das relações entre homens e mulheres, com os primeiros a saírem-se, no final, sempre pior do que as segundas. Neste filme, que tem agora a sua primeira exibição na Cinemateca Portuguesa, a história é a de um homem paralisado pela paixão que sente por uma mulher. “A Carne” foi um dos títulos mais bem recebidos da última fase da carreira de Ferreri. 

Dia 20 às 18h30; 
repete dia 23 às 21h30