A primeira semana de trabalho de John Bolton assenta-lhe à medida

Preso pelas suas palavras, Macron falou no domingo com Trump por telefone. A França tinha de retaliar pelo uso de armas químicas Bolton defendeu no ano passado um ataque contra Assad que lhe eliminasse toda a força aérea

John Bolton preparava-se para o seu primeiro dia de trabalho na Casa Branca como conselheiro para os temas de segurança nacional quando as imagens de corpos asfixiados nos arredores de Damasco começaram a chegar aos meios de comunicação. O aparente ataque com armas químicas aconteceu na noite de sábado e John Bolton começou o novo trabalho na segunda-feira, no mesmo dia em que o presidente americano indicou que iria retaliar contra o regime de Bashar al-Assad. “Ele quis que este fosse o primeiro dia”, disse Donald Trump aos generais que convocou à Casa Branca. “Acho que o escolheu bem”, prosseguiu, e, voltando-se para o seu terceiro conselheiro para a segurança nacional, lançou: “Certamente acharás isto muito entusiasmante.”

Não é difícil concebê-lo. John Bolton é consensualmente visto como um dos mais agressivos e menos hesitantes defensores do uso do poder militar americano no mundo. Trata-se de uma fama que Bolton apenas ocasionalmente combate, dizendo-se mais pragmático que violento. A sua postura intervencionista, porém, está muito à tona. Bolton é ainda hoje um defensor da invasão americana do Iraque, que ajudou a preparar quando se encontrava no governo de George W. Bush – no qual entrou por insistência do seu amigo Dick Cheney. No que diz respeito aos problemas mais espinhosos e fraturantes da política externa americana, Bolton apresentou no passado ou defende hoje as mais radicais soluções em cima da mesa: se ontem propôs bombardear a Coreia do Norte e atacar o Irão, hoje quer rasgar o acordo nuclear, mudar o seu regime, e assumir a mais radical linha de negociações com os norte-coreanos.

Bolton intitula-se um “americanista”. Em muitos sentidos, trata-se de uma posição ideológica semelhante à da “América Primeiro” de Donald Trump, o homem que vinha elogiando ostensivamente na estação conservadora Fox News até que lhe foi oferecido o cargo de conselheiro. Ambos desconfiam de instituições internacionais, defendem uma diplomacia sem rodeios – “take ir or leave it” – e parecem ter um dedo sempre no gatilho. No ano passado, quando Trump disparou 57 mísseis Tomahawk contra a Síria, Bolton defendeu que o presidente americano devia ter inutilizado toda a força aérea de Assad, e não apenas dois ou três caças num aeroporto remoto.

As posições de Bolton em relação à guerra síria são difíceis de conciliar. O novo conselheiro defende uma resposta assertiva ao regime, mas não quer entrar na guerra. Há muito que Bolton defende que não há vantagem para os EUA no conflito a não ser contrariar a expansão russa e iraniana. Disse mesmo que Assad ocupa um “distante terceiro lugar” no que diz respeito à hierarquia de preocupações americanas no conflito, atrás do Estado Islâmico e Teerão. Mas é Assad que Trump e Bolton querem castigar agora. Procurarão um meio-termo que não os force a comprometer-se com um conflito indesejável. “Pelo menos resolvam os maiores problemas que enfrentamos”, disse na Fox News. “Não se trata de nos livrarmos de Assad na Síria. Trata-se de nos livrarmos dos aiatolas em Teerão.”