Montepio mantém acordo com chineses

As negociações entre o Montepio e o grupo chinês CEFC Energy esperam luz verde do regulador para vender 60% do negócio segurador por 160 milhões de euros.

Montepio mantém acordo com chineses

A Associação Mutualista Montepio Geral mantém a intenção de vender 60% da área seguradora por 160 milhões de euros ao grupo chinês CEFC Energy, a mesma entidade com quem a Fundação Gulbenkian pôs fim às negociações para vender a petrolífera Partex, apurou o SOL. De acordo com fonte ligada ao processo, mantêm-se os contactos entre a associação liderada por Tomás Correia, o grupo chinês e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF). Ambas as partes continuam interessadas no negócio.

O SOL sabe que a CEFC tem respondido às questões colocadas pela ASF, nomeadamente esclarecimentos sobre a saída do presidente Ye Jianning do grupo, afirmando que não está presente no seu capital e afastando a necessidade de fazer novas due diligences às seguradoras: Lusitania Seguros, Lusitania Vida e N Seguros. 

Esta garantia surge depois de a Fundação Calouste Gulbenkian afirmar que, apesar de pretender alienar a petrolífera Partex, considera não existirem condições para prosseguir o negócio com aquele grupo chinês. «Na sequência das notícias recentes vindas a público sobre a situação do grupo chinês e face à incapacidade desta empresa em as esclarecer cabalmente junto da Fundação, concluiu-se que não existem condições para continuar as conversações», revelou a entidade liderada por Isabel Mota.

Recorde-se que, no início de março, a imprensa internacional deu conta de que o fundador do grupo, Ye Jianming, estava a ser investigado, por suspeitas de crimes económicos. 

Face ao interesse das duas partes em manter o acordo assinado em novembro passado, cabe ao regulador dar o parecer sobre o negócio. A ASF tinha 90 dias para tomar uma decisão, no entanto, o timing tem sido interrompido para esclarecimentos de algumas questões. Neste momento a análise do dossiê voltou a sofrer uma paragem para obter esclarecimentos em relação à mudança da estrutura acionista, soube o SOL. 

No entanto, se for aprovado, o negócio terá de ser apresentando ao conselho geral da Associação Mutualista para se pronunciar e só mais tarde será a vez do conselho de administração dar o aval à operação. 

Fonte ligada ao processo lembrou as novidades deste negócio em relação aos investimentos que já foram feitos por grupos chineses neste setor. Até aqui, as seguradoras têm sido compradas a 100%, mas nesta operação não existe exclusividade. Isto significa que, se a Associação Mutualista, assim o entender «poderá futuramente vender seguros da concorrência no caso de achar que tem de ir encontrar alternativas».

Impasse com Santa Casa

Também o negócio entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) continua a registar um impasse. Tal como o SOL avançou, a entrada em simultâneo de entre 20 e 30 entidades – Santa Casa, misericórdias e IPSS – numa primeira fase, assim como o envolvimento político em torno deste dossiê, têm vindo a atrasar o processo, que já poderia estar concluído há largas semanas.

A entidade liderada por Edmundo Martinho deverá investir 18 milhões de euros para ficar com 1% do capital. Um valor que vai ao encontro do que já tinha sido avançado pelo diário i e que apontava para um investimento até 20 milhões de euros. O mesmo caminho será seguido pelas restantes misericórdias e IPSS, ainda que com montantes considerados «simbólicos».

Apesar da entrada destas instituições ainda não estar formalizada, os seus representantes já contam com assento no conselho de administração da instituição financeira. Um desses casos é António Tavares, presidente da Misericórdia do Porto, que já viu o seu nome aprovado pelo Banco de Portugal (BdP) para presidir à mesa da assembleia-geral.

Para o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, esta aposta é estratégica. «Estamos muito determinados em ser parte de um processo que contribua para consolidar a economia social», revelou na semana passada aos deputados, recusando estar a entrar numa aventura. «Não estamos em nenhuma aventura. Aventura já tivemos, e grandes, no passado, e que tiveram impactos muito significativos na vida da Santa Casa», salientou Martinho. 

Ainda assim, garantiu que «não há investimentos sem riscos», mas lembrou que este tem sido estudado com prudência.

O montante a investir e a posição a deter ficam aquém do que estava inicialmente previsto – cerca de 200 milhões de euros para ficar com 10% do capital do Banco, mas, para Edmundo Martinho, a estratégia mantém-se: «A opção continua a ser estratégica para a Santa Casa. Estamos presentes, queremos estar presentes e estamos disponíveis para sermos contribuintes e beneficiários nos órgãos de gestão do banco», declarou, mostrando que este investimento não é apenas simbólico.