TAP. Lucros de 100 milhões quando é “invadida” por vaga de cancelamentos

Melhoria do resultado ocorre também numa altura em que a empresa que gere os aeroportos diz que Lisboa está esgotada e é preciso avançar com alternativa.

Pela primeira vez em dez anos, a TAP SGPS alcançou lucros de 21,2 milhões de euros no ano passado, contra os prejuízos de 27,7 milhões verificados no ano anterior. Para este resultado contribuiu o lucro de 100,4 milhões de euros da companhia aérea no ano passado, ou seja, o triplo dos 33,5 milhões que tinham sido registados em 2016. Só no ano passado, a TAP transportou 14,2 milhões de passageiros, mais 21,6% que em 2016. 

Já a TAP Manutenção e Engenharia Brasil continua a pesar sobre as contas e registou prejuízos de 50,1 milhões, um agravamento face às perdas de 31,9 milhões de euros registadas em 2016.

Esta “significativa melhoria” dos resultados ficou a dever-se ao “forte comportamento do mercado observado no início de 2017, que permaneceu praticamente o mesmo ao longo do ano, sustentado por uma retoma generalizada das condições económicas”, revela a TAP no relatório, avançado pelo “Jornal de Negócios”, que irá ser aprovado a 9 de maio em assembleia-geral.

A verdade é que estes números vão ao encontro do que já tinha sido anunciado pelo ex--presidente da companhia aérea, Fernando Pinto, ao indicar que os resultados da TAP em 2017 poderiam ser os “melhores da História” – uma declaração feita pelo responsável antes de abandonar a liderança da empresa, 17 anos depois de ter assumido funções.

Também o ministro do Planeamento, Pedro Marques, elogiou os resultados alcançados pela companhia de aviação. “A sua estabilização financeira e o regresso a resultados positivos é um bom sinal para os portugueses porque nos dá confiança no futuro da TAP e, ao fim ao cabo, confiança na nossa economia”, disse.

O governante chamou ainda a atenção para a importância da posição do Estado como maior acionista da companhia aérea. “Foi esse o propósito da ação deste governo. Consideramos que a manutenção de uma posição do Estado como maior acionista dava-lhe alcance estratégico, dava estabilidade estratégica e permitiria que uma gestão executiva por parte dos acionistas privados pudesse cumprir esse plano estratégico”, afirmou.

Pedro Marques referia-se à reversão da privatização, que resultou em 50% do capital para o Estado, através da Parpública, 45% para o consórcio Atlantic Gateway e 5% para os trabalhadores.

Instabilidade

Mais atribulados têm sido os primeiros meses do ano, com a companhia de aviação a cancelar cerca de 560 voos até março. De acordo com os dados avançados pela OAG – empresa britânica que divulga mensalmente relatórios de pontualidade de companhias e aeroportos –, em janeiro tinham sido cancelados 75 voos da TAP. Em fevereiro, esse número aumentou para 117 e, em março, disparou para 365. 

No relatório público mensal, as estatísticas mostraram que, em março, 1,6% dos voos da TAP foram cancelados e que 57,6% das chegadas não sofreram atrasos superiores a 15 minutos. Nesse mês realizaram-se 10 875 voos. No ranking da pontualidade, a transportadora estava em 151.o lugar entre 156 companhias.

O certo é que o pico de cancelamentos se verificou na altura da Páscoa (ver texto ao lado), uma situação que já levou o governo a mostrar a sua disponibilidade para esclarecer os deputados sobre a mesma. Ainda assim, Pedro Marques já referiu que estes problemas são de “natureza operacional” e, como tal, da responsabilidade da comissão executiva da companhia aérea.

O ministro referiu também que “há várias companhias aéreas na Europa também com situações de cancelamento, desde logo porque houve greves noutros países e mau tempo que afetou uma quantidade de países e que também” afetou Portugal, em particular a Região Autónomo da Madeira, “onde houve uma série de cancelamentos”.

Aeroporto esgotado

Os “bons” resultados alcançados pela TAP verificam-se numa altura em que o aeroporto de Lisboa está esgotado. Os quatro fatores de capacidade, fixados contratualmente com o Estado, previstos para ser desencadeada uma solução alternativa para aumentar a capacidade aeroportuária da capital já foram atingidos no ano passado. 

Recorde-se que o contrato entre o Estado e a operadora responsável pelo aeroporto da capital previa o desencadeamento do processo após a verificação, num só ano, de três de quatro critérios: um total anual de passageiros superior a 22 milhões; um total anual de movimentos acima dos 185 mil; um total de passageiros no 30.o dia de maior procura superior a 80 mil; e um total de movimentos no 30.o dia mais movimentado acima dos 580. No entanto, qualquer destes quatro fatores terá já sido alcançado, daí a ANA já ter comunicado formalmente ao governo a sua verificação em 2017.

A solução poderá passar pela instalação de um aeroporto complementar no Montijo, o que está dependente da realização de um estudo de impacto ambiental. Mas uma tomada de decisão por parte do governo já só é esperada para o segundo semestre deste ano.

Ainda na sexta, o grupo Vinci revelou que os dez aeroportos que gere em Portugal registaram um total de 10,4 milhões de passageiros, ou seja, um aumento de 12% face a 2016. “Este crescimento reflete nomeadamente o bom desempenho das cinco principais companhias aéreas que operam em Portugal, todas com crescimento de dois dígitos”, explicou. 

De acordo com a empresa, Lisboa reforçou ainda mais a sua posição como um hub internacional, com o tráfego a aumentar 15,9%, enquanto o Porto, que ultrapassou os 10 milhões de passageiros em 2017, registou um crescimento de 12% no tráfego. Em Faro, a falência da Monarch e da Air Berlin em 2017 estabilizou o volume de tráfego.