ETA de parabéns por pedir desculpa pelos crimes

O comunicado da organização separatista deve ter deixado muito boa gente indisposta e revoltada

Durante décadas, os defensores da organização separatista basca ETA legitimaram os ataques que vitimaram mais de 800 pessoas, culpando os sucessivos governos de Espanha, ou de Madrid, como gostam de dizer os independentistas. Essas mesmas personagens devem ter levado um enorme murro no estômago com a declaração que a organização terrorista fez no dia de ontem: «Causámos muita dor e danos irreparáveis, queremos mostrar o nosso respeito aos mortos, feridos e vítimas das ações da ETA. Lamentamos muito». Mas a organização foi mais longe, assumindo a responsabilidade dos «mortos, feridos, torturados, sequestrados ou forçados a fugir para o exterior» ao longo dos anos. «Pedimos desculpa», dizem no comunicado em que anunciam o fim da organização para maio.

O problema daqueles que sempre defenderam a ETA é que nunca perceberem que conflitos como o dos bascos se resolvem de forma democrática, solução agora reconhecida. Nada melhor do que ler o que disse a organização: «A ETA reconhece a responsabilidade direta dessa dor e deseja manifestar que nada disso devia ter acontecido e nunca se devia ter prolongado tanto tempo, porque há muito que este conflito político e histórico devia ter tido uma solução democrática e justa». Só que a luta é muito desigual entre aqueles que acham que a revolução justifica os meios para alcançarem o que desejam e aqueles que acreditam na democracia e na capacidade dos povos em lutarem pelos seus ideais, desde que esses não impliquem mortes.

Mas o que se aplica para os defensores da ETA pode ampliar-se para muitos outros fenómenos políticos. Aqueles que são ‘cegos’ vão atrás de uma ideia, nem que para isso tenham que matar quem se lhes oponha. Digamos que são os mesmos que se manifestam contra a pena de morte em países como os EUA, mas defendem essa sentença em caso de organizações separatistas.

Sempre me fez imensa confusão esse extremar de posições e a violência é algo que abomino. Mas voltando àqueles que sempre defenderam a luta armada da ETA, gostaria de saber o que pensam do texto que a organização publicou. Será que acham que os novos dirigentes são uns fracos? É curioso constatar que a ETA termina quando boa parte do povo catalão luta livremente pela independência da sua região. Mesmo com dirigentes políticos presos, os catalães defendem as suas ideias de uma forma democrática. E será dessa forma que conseguirão ou não a independência da Catalunha. Com mais ou menos manifestações, o Governo espanhol acabará mais cedo ou mais tarde por realizar o referendo. 
Por fim, acho de uma grande dignidade o comunicado da ETA. Reconhecerem os erros e pedirem desculpa só lhes fica bem. Hoje têm consciência da dor que provocaram a milhares de famílias. Hoje assumem a sua responsabilidade – e bem. Falta agora o Governo reconhecer o mal que fez com a constituição dos GAL, o grupo armado clandestino do executivo de Felipe González que tinha como missão matar os etarras. Alguns desses assassinos foram recrutados em Portugal e a história deu muito que falar na altura. 

Se a ETA teve a coragem de fazer o mea culpa também os governantes de então, pelo menos, deveriam chegar-se à frente e pedir desculpa pelo que fizeram. A democracia não pode combater os terroristas com as mesmas armas destes. É básico.