A Uber ganhou ao táxi

Muitos deputados não sabem como funcionam serviços como a Uber, o que é grave, pois legislam sobre eles.

Um jornalista com nome da praça e responsabilidades de chefia deu há dias uma pública demonstração de que não sabia o que era a Uber. Foi grave, porque o evento era sobre inovação, promovido por uma empresa de telecomunicações em parceria com uma empresa de media proprietária de vários jornais e rádios. 

O presidente da empresa de comunicações deu o exemplo do que seria viver no futuro com gadgets tecnológicos e chips introduzidos na nossa pele. Seguindo-se-lhe, o jornalista relatou a sua chegada atribulada ao evento, com um episódio recambolesco sobre o pagamento do táxi, tendo de recorrer a um amigo para o ajudar com os trocos – o que demorou algum tempo. Em conclusão, disse que o que seria mesmo bom era alguém inventar uma maneira de entrar e sair do táxi sem pagar, sem confusão de trocos e sem perder tempo. E sorriu. Pode ter sido ironia, mas não tenho a certeza…

É que a Uber é isso mesmo. Esse sistema já foi inventado e é altamente popular no mundo civilizado. O mais estranho é que se tratava de uma conferência sobre inovação, e estes serviços de transporte já nem sequer são inovadores, massificaram-se.

Ora, parece que o mesmo se passa com deputados: muitos também não sabem o que são aqueles serviços. O que é grave, porque têm de legislar sobre estas matérias, como se viu há dias. Parece que sabem ‘sacar umas massas’ tratando-se de viagens insulares de avião, mas sobre transportes na cidade sabem pouco. 

Estes serviços funcionam com uma aplicação ligada ao cartão de crédito, permitindo entrar e sair do táxi sem o ato físico de pagar – o que acelera bastante o processo e evita os episódios de pagamento ‘rocambolescos’ descritos pelo jornalista na conferência.

Para além disso, existe outro aspeto que diferencia os serviços: há na Uber e congéneres uma cultura de avaliação. Avaliamos soberanamente o serviço que nos foi prestado.

Durante muito tempo mantive-me fiel aos táxis, sensível a dois tipos de argumentos: em Portugal a Uber ainda não era legal e questionavam-se as formas de contrato com os respetivos condutores. Mas reconheço que, a partir do momento em que se experimenta, é difícil voltar para trás.

Desde logo porque se pode fazer uma viagem inteira calado (o que é bom para os que, como eu, gostam de silêncio); mas essencialmente porque se entra e sai sem troca de notas e moedas; e, no final, classificamos a viagem.
Nas cidades, os mais novos, nativos digitais, crescem habituados a isto e não querem outra coisa. Somos consumidores esclarecidos e cada vez mais exigentes.  

Trava-se um choque entre o velho e o novo mundo – que se nota sobretudo nas cidades e nas grandes urbes. Que é onde tudo acontece – e por isso as pessoas lá querem viver.

sofiarocha@sol.pt