Afeganistão. Bombista do Estado Islâmico mata 57 em Cabul

Grupo quer atacar as eleições de outubro. Explosão ocorreu num bairro xiita e atingiu centro de registo eleitoral. 

Um homem armadilhado com um colete suicida fez-se este domingo explodir contra um centro de registo eleitoral num dos bairros xiitas de Cabul. A detonação foi tão grande que estilhaçou janelas de edifícios a centenas de metros de distância do local da explosão. Ao final da tarde, o executivo afegão contava 57 mortos e 54 feridos, alguns em condição crítica.

Morreram também quatro crianças que acompanhavam os pais enquanto estes se registavam para votar nas eleições legislativas de outubro, nas quais se espera que o eleitorado afegão manifeste o seu desagrado com a situação de insegurança no país. “Estamos fartos deste governo a quem pedimos ajuda”, afirmava, perto da zona da explosão, Farooq Hussain, citado pelo diário “Guardian”. “As nossas gerações mais jovens e crianças estão a morrer demasiado cedo.” 

O ataque suicida deste domingo é simultaneamente um novo passo na campanha de terrorismo do Estado Islâmico no Afeganistão, sobretudo direcionado contra a população xiita, e também um gesto simbólico. O grupo, que está em farrapos na Síria e Iraque, defende a criação de um califado alastrado por quase todo o Médio Oriente, Norte de África e Península Ibérica, e repudiam por isso a realização de eleições nos territórios que almejam controlar.

“Morte ao governo!”, ouve-se na mensagem de reivindicação do Estado Islâmico, citada pela Reuters. “Morte aos Taliban!” 

A explosão no bairro Dashte Barchi, em Cabul ocidental, é já o quarto ataque contra locais de registo eleitoral desde que abriram, há uma semana. Trata-se também do atentado que mais pessoas matou desde que em janeiro morreram mais de 100 pessoas num ataque dos Taliban com ambulâncias armadilhadas, também em Cabul.

No Afeganistão morre-se por estes dias a um ritmo mais elevado que o da invasão americana de 2001 e consultas recentes, como uma investigação conduzida pela BBC, por exemplo, avançam que o governo do presidente Ashraf Ghani não controla mais que 30% do território de todo o país. Os Taliban dominam grande parte do Afeganistão, acima de tudo as suas zonas rurais. 

A população preocupa-se com as eleições de outubro, que são alvo para ambos os grupos, embora os Taliban tendam a atacar sobretudo as forças de segurança. Ao longo das próximas semanas, milhões de afegãos vão registar-se para eleger um novo parlamento, num período particularmente rico em ataques suicidas lançados pelos Taliban – todos os anos acontece a chamada “ofensiva da primavera”.

O grupo abriu também este ano uma ofensiva diplomática, tentando alcançar um acordo de paz com o governo afegão e as forças da NATO que o apoiam. Em março, representantes dos países vizinhos encontraram-se em Cabul para discutir novos esforços de paz e os Taliban anunciaram que as fações internas apoiam uma resolução.