25 de Abril. Costa não percebeu Marcelo. “Arte moderna”, diz

As celebrações do 25 de Abril ficaram marcadas pela chamada de atenção de Marcelo sobre o “endeusamento” dos políticos. Costa não consegue interpretar “os discursos modernos”. Bloco e PCP voltaram a criticar o governo, porque “Abril nunca rimou com Eurogrupo”

Marcelo Rebelo de Sousa discursou, na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República, durante quase 15 minutos. Apelou à necessidade de renovar o sistema político e de prevenir o populismo. “Não confundimos o prestígio ou a popularidade mais ou menos conjuntural de um ou mais titulares do poder com endeusamentos ou vocação salvífica”, afirmou.

Não há político mais popular do que o Presidente da República e, por isso mesmo, a frase que mais se destacou no discurso de Marcelo deixou muita gente intrigada. Dirigia-se a alguém em particular ou estava a referir-se a ele próprio quando falou em “messianismo” e endeusamento” dos políticos? António Costa acredita que o Presidente da República “não estava a falar de si próprio, porque é o único que nas sondagens tem níveis de popularidade absolutamente estratosféricos”. O primeiro-ministro não arriscou, porém, a tentar encontrar um destinatário e confessou que “é muito difícil, às vezes, interpretar a arte moderna e nem sempre é possível interpretar os discursos modernos”.

Esquerda ataca governo O dia era de festa. Os deputados socialistas cantaram no hemiciclo a “Grândola, Vila Morena”. Alguns deputados de esquerda juntaram-se à festa, mas não deixaram de fazer críticas ao governo. José Luís Ferreira, do Partido Ecologista Os Verdes, foi o primeiro, entre os partidos que apoiam o governo, a subir à tribuna para lembrar ao governo que “nós não somos todos défice”. A seguir, Paulo Sá, do PCP, defendeu que “se não se vai mais longe na resolução dos problemas dos trabalhadores, do povo e do país, isso deve-se às opções do PS e do seu governo, que, em convergência com PSD e CDS, mantêm o seu compromisso com os interesses do grande capital e a sua submissão às imposições do Euro e da União Europeia”. Costa ouviu e sorriu.

O Bloco de Esquerda não foi tão violento, mas apontou o dedo a Centeno por causa do défice. “Da educação à habitação, da justiça ao trabalho, tudo o que falta conquistar cabe-nos colocar na agenda política. Caberá tudo isto num orçamento? Não, mas certamente passa por ele. Será que agrada ao Eurogrupo? Provavelmente não, mas Abril nunca rimou com Eurogrupo”, disse Isabel Pires.

Costa não deixou a esquerda sem resposta e garantiu que “a presença no Eurogrupo não é um problema, é uma vantagem”.

Corrupção À direita, o PSD foi o único partido a abordar o tema da corrupção. O Presidente da República já tinha alertado para a necessidade de ser “eficiente” no combate à corrupção. Margarida Balseiro Lopes foi mais longe e alertou que “há assuntos em que não ouvimos suficientemente o que o Povo reclama. É talvez o mais central desses assuntos o combate à corrupção e a defesa do Estado e do erário público da captura por interesses particulares”. O tema da corrupção está na ordem do dia com o caso Manuel Pinho, mas até agora nenhum partido o tinha levantado no parlamento.

Margarida Balseiro Lopes, que foi recentemente eleita para a liderança da JSD, considera que é necessário “reformar o sistema político” para que “sejam conhecidos todos os interesses em causa em todas as decisões tomadas pelos poderes públicos”.

A reforma do sistema político esteve no centro de várias intervenções. Rui Rio, que assistiu à cerimónia, respondeu ao apelo do Presidente da República com a garantia de que a disponibilidade do PSD é “total” para “iniciarmos essa reforma”. Para o líder do PSD, a “necessidade de olhar para o sistema político e reforçá-lo através de reformas que o adaptem aos novos tempos é absolutamente vital”. Carlos César, líder parlamentar do PS, admitiu que “é importante que nos concentremos nessa dimensão de fragilidades do nosso sistema político”.

Ferro apelou a que a Assembleia da República se prepare para dar “um sinal mais forte no sentido do reforço das oportunidades de participação política”. E defendeu a necessidade de “avaliar seriamente a possibilidade de alargamento do âmbito da limitação dos mandatos e das acumulações de cargos, e ponderar incentivos eficazes à dedicação exclusiva no parlamento”.