Madeira ardida em terrenos do Estado vai hoje a leilão

Em causa estão 114 lotes de material lenhoso, do Pinhal de Leiria à serra da Estrela. Estado quer arrecadar até 35 milhões na venda de madeira

O Estado procura hoje vender em hasta pública 114 lotes de material lenhoso, a maioria proveniente das matas nacionais afetadas pelos incêndios de outubro. É o terceiro leilão com madeira atingida pelos fogos. A expetativa do governo é arrecadar 25 a 35 milhões de euros neste processo, verbas que serão reinvestidas na floresta pública, indicou ao i o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

Até ao momento não foi feito um balanço da quantidade de madeira já vendida. Uma reportagem da TVI deu conta de apenas dois talhões licitados na última hasta pública, que teve lugar em fevereiro e abrangeu 87 lotes de madeira, a maioria nas matas nacionais de Leiria e Pedrógão. A hasta pública marcada para hoje, e que terá lugar no Instituto Português da Juventude, em Viseu, é a mais ampla até ao momento e volta a colocar à venda a maioria dos lotes que não tiveram licitações há dois meses. Na reportagem da TVI, o presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) recusou que a madeira esteja entretanto a degradar-se, indicando que esse risco será real dentro de dois meses. “Nós pomos a madeira no mercado ao preço que consideramos justo. Veremos, nas hastas de abril e maio, como será o desempenho.”

Segundo a mesma reportagem, tanto o início do fogo que consumiu praticamente todo o Pinhal de Leiria como a falta de licitações nas últimas hastas públicas têm na base uma concertação de madeireiros para fazer baixar os preços – matéria que, disse ao i o gabinete do ministro Capoulas Santos, “está a ser analisada pelas autoridades judiciárias”.

Um milhão de árvores De acordo com os mapas disponibilizados pelo ICNF aos potenciais interessados na hasta pública desta quinta-feira, os 114 lotes de material lenhoso que o Estado pretende alienar abrangem 1 214 726 árvores, a esmagadora maioria das quais – 1 169 870 – foram afetadas pelos incêndios. As restantes são troncos verdes ou, por exemplo, partidos. Tendo em conta os preços- -base de licitação dos 114 lotes está em causa um valor mínimo de 4,5 milhões de euros. O i tentou perceber junto da tutela como se chega a uma estimativa de 25 a 35 milhões de euros com a venda de madeira afetada pelos incêndios – e quantos mais lotes além destes estão por licitar –, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. Procurou igualmente perceber qual será a estratégia seguida pelo ICNF caso a madeira não seja vendida, esclarecimento que até ao momento não foi fornecido.

De acordo com os mapas publicados, as árvores em causa são sobretudo pinheiro-bravo, mas há acácia, eucalipto, pinheiro- – manso e silvestre e ainda carvalhos e castanheiros, em menor quantidade. Mais de um quinto das árvores estão localizadas na Mata Nacional de Leiria, onde estão situados os lotes com o preço de licitação mais elevado. O mais caro de todos tem 58 hectares, com uma estimativa de 9692 pinheiros-bravos. A licitação-base é de 295 mil euros, com lanços mínimos de 2 mil euros. No extremo oposto está um lote localizado no Perímetro Florestal de Castelo Novo, no Fundão, com 1,7 hectares e apenas 401 pinheiros-bravos. O preço-base de licitação são 500 euros, com lanços mínimos de 100 euros.