Militares portugueses na República Centro Africana: “Trata-se de um ambiente particularmente exigente”

O SOL falou com Hermínio Maio, Brigadeiro-General da EUTM em missão na República Centro Africana

Lidera uma força com militares de 11 países. Identifica muitas diferenças entre os militares destes países? É fácil construir uma equipa que reme para este lado neste tipo de missão?

Os valores e princípios que nos regem são os das Forças Armadas que integram a missão sob a bandeira da União Europeia. Nos domínios do Comando e Estado-Maior, da Formação e do Treino, existe uma base de interoperabilidade que muito naturalmente se evidencia pela experiência de todos os militares em ações de treino e em operações militares anteriores no âmbito da União Europeia ou da NATO.

Diria que a qualidade dos militares, a sólida formação militar e a vontade de bem servir sob a nossa ação de comando, unem todo o efetivo com a finalidade de cumprir a nobre missão que é a reconstrução das Forças Armadas da República Centrafricana e, deste modo, contribuir para a paz e desenvolvimento do país. 

Que língua usam para comunicar?

No trabalho de Estado-Maior da missão, na comunicação interna e externa, e na produção de documentos é usada a língua inglesa. No entanto, o trabalho de assessoria, formação e treino com as Forças Armadas da RCA, é realizado todo ele em Francês.

Geograficamente, encontram-se em que zona da RCA? Pode descrever-nos um pouco o ambiente?

Estamos sediados no 8.º bairro da capital do país, em Bangui, no interior de um aquartelamento das Nações Unidas. 

A complexidade, a volatilidade e a incerteza do ambiente operacional exigem uma constante atenção de todos e em todos os momentos. Trata-se de um ambiente particularmente exigente em termos securitários e sanitários tanto para a população local como para os agentes da Comunidade Internacional que cumprem a sua missão na RCA. 

Uma das missões da EUTM é formar quadros das Forças Armadas da RCA. Em que ponto dos trabalhos estão? Quantos militares locais estão em formação?

Neste momento foram treinados dois Batalhões, cerca de 1300 militares. Em finais de Julho 2018 termina o treino operacional do terceiro Batalhão de Infantaria Territorial, perfazendo um total de cerca de 2000 militares das Forças Armadas da RCA, preparados para serem empenhados em conformidade com o Plano Nacional de Defesa aprovado pelo Presidente da República.

Em termos de formação foram até à data reciclados cerca de 350 Oficiais e 500 Sargentos. Foram realizados cursos de qualificação de Oficiais e Sargentos e de Formação de Formadores em diversas áreas das quais se destacam: Comandante de Companhia e Comandante de Pelotão, Liderança, Recursos Humanos, Informações, Logística, Comunicações e Sistemas de Informação, Direito Internacional Humanitário, Prevenção da Violência Sexual, Suporte Básico de Vida e Informática. 

Releva-se também o processo de validação pela EUTM do treino operacional realizado por unidades das Forças Armadas da RCA formadas no estrangeiro. Esta ação visa assegurar a coerência dos processos de planeamento, conduta, treino e formação dos militares das FACA. No final das ações de Formação e de Treino, todos os militares das Forças Armadas devem partilhar os mesmos procedimentos, agindo de forma una e coesa e assegurando a interoperabilidade das diversas Unidades.