Os políticos que sejam mais transparentes…

A política precisa de ser transparente no que à causa pública diz respeito. O caso da Operação Marquês, os Vistos Gold, além de outros mais antigos com governantes do Bloco Central, só denigrem a classe política.

É sabido há muito que os políticos, leia-se deputados e governantes, não têm coragem para defenderem um aumento dos seus ordenados. As razões são óbvias: com um ordenado mínimo que não chega aos 600 euros e depois dos cortes impostos à Função Pública, é natural que tenham problemas em pedir mais dinheiro para si. Ficam bem na fotografia mas não nos bolsos e, por isso, arranjam estratagemas para ganharem mais uns cobres, alguns mais do que duvidosos no plano moral.

O Parlamento e o Governo devem ter os melhores e não uns chicos-espertos que vão para a política ou por vaidade ou para conseguirem criar uma teia de interesses que lhes permita viver desafogadamente. Também não é segredo para ninguém que os pequenos negócios vão ajudando a galinha a encher o papo, mas é quando saem do Governo que muitos políticos enriquecem. É natural já que conhecem as leis melhor do que muitos e têm contactos que podem ser muito valiosos para as empresas que os contratam.

Mas começa a ser óbvio demais que a política não pode continuar a ser um terreno obscuro. O caso dos subsídios de dois mil euros para os deputados das regiões autónomas é um bom exemplo disso: faz algum sentido os deputados receberem ajudas de custos por viagens que não fazem? E mesmo que as façam, não têm, à semelhança dos seus conterrâneos, outras ajudas? Se querem dizer que os deputados das ilhas merecem ganhar mais que o digam abertamente. Mas não são os únicos que têm este esquema, os restantes também têm as suas ‘ajudas’.

O que mais me intriga no trabalho do Parlamento é que há muita coisa que é escondida do comum dos mortais. Dou um pequeno exemplo: por que razão os eleitores não sabem verdadeiramente quem esteve a trabalhar na Assembleia da República? Qual a razão de a presença nos plenários ser feita através de um código, permitindo que os deputados se protejam uns aos outros? Faz algum sentido a verdadeira casa da democracia ser um local onde se conseguem fazer estas chico-espertices?

Não serão todos, é certo, mas basta meia dúzia para ser uma verdadeira vergonha. Os deputados eleitos deveriam apresentar regularmente o que fizeram pelos seus eleitores e deveriam também ser obrigados a revelar que interesses têm nas matérias que são discutidas em plenário.

A política precisa de ser transparente no que à causa pública diz respeito. O caso da Operação Marquês, os Vistos Gold, além de outros mais antigos com governantes do Bloco Central, só denigrem a classe política. Mas o que dizer de sistematicamente quererem impedir que o enriquecimento ilícito seja criminalizado? O que dizer de continuar a não se saber quem foram os responsáveis pelo fiasco financeiro dos bancos? Quando é que os grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos vão ser revelados?

O tempo do silêncio sobre a CGD continua a ser um mistério ensurdecedor. Quem está a esconder quem? Se eu não pagar ao banco o empréstimo que fiz para comprar casa levo com um processo em cima e vou para a rua. Como é então possível que quem pediu milhões para destruir outro banco possa continuar alegremente a sua vida sem chatices?
A estratégia seguida é simples e podemos citar um provérbio popular: ‘Os cães ladram e a caravana passa’. Nada como deixar o tempo fazer esquecer as jogadas de bastidores de um dos períodos mais negros da história do país.