Sporting – Benfica sob o signo do 7!!!

Quarenta anos de distância separaram os dois jogos: em 1946, no Campo Grande, o Benfica ganhou 7-2; em 1986, em Alvalade, foi a vez do Sporting: 7-1.

Não é Sob o Trópico de Câncer, como recitava Vinícius, mas perde-se já na poeira atómica que se acumula na cúpula do mundo; nem Sob o Signo de Capricórnio, como Alfred Hitchock (com Ingrid Bergman e Joseph Cotten). É Sob o Signo do 7, mais ao jeito de Blake e Mortimer. 

Sete: convenhamos que, num dérbi, sobretudo este dérbi de todas as emoções que tem sido o Benfica-Sporting ou Sporting-Benfica, para o caso tanto faz, levar sete deixa mossa, magoa por dentro, é de um homem morrer de enfarte na bancada ou em frente da televisão. E, no entanto, já houve um sete para cada lado, curiosamente com quase quarenta anos de distância pelo meio.

O dérbi de Lisboa e de Portugal habituou-nos a ser um dérbi de golos.

Golos e golos e golos.

Nove-golos-nove: é este o máximo atingido num Benfica-Sporting. Em qualquer um deles, seja para que competição for, mesmo nos amigáveis.

Houve um de 5-4 para o Campeonato Nacional, em 1944.

Houve esse dos 7-2, também para o Campeonato Nacional, em 1946.

Houve outro de 5-4 para a Taça de Portugal, em 1952.

Houve o dos 6-3 para o Campeonato Nacional, em 1994.

Interessa-nos o dos 7-2. 23.ª jornada do Campeonato Nacional de 1945-46, no Campo Grande, casa dos encarnados. Prova para sempre marcada na história do futebol em Portugal: Belenenses campeão. Benfica em segundo; Sporting em terceiro.

A 28 de abril de 1946 dá-se essa inacreditável vitória encarnada por 7-2.

Pois sabem vocês qual era o resultado ao intervalo? Zero-a-zero!

Isso mesmo. Zero-a-zero. E, depois, em 39 minutos, explodiu o dique dos golos: nove.

Hat-tricks houve dois. De Arsénio e Mário Rui.

Equipas boas, equilibradas. No Benfica: Martins; Jacinto, Cerqueira e Artur Teixeira; Moreira e Francisco Ferreira; Mário Rui, Arsénio, Júlio, Joaquim Teixeira e Rogério, dito Pipi. No Sporting: Azevedo; Cardoso, Manuel Marques e Lourenço; Veríssimo e Barrosa; Jesus Correia, Cordeiro, Peyroteo, Albano e Cruz. 

Golos, golos e golos…

O enorme Azevedo sofrer sete golos??? Parecia impossível.

Todos em catadupa, logo a abrir o segundo tempo: 1-0 por Arsénio (46m); 2-0 por Mário Rui (51m); 3-0 por Rogério (58m); 3-1 por Albano (68m); 4-1 por Arsénio (69m); 5-1 por Mário Rui (72m); 6-1 por Arsénio (77m); 7-1 por Mário Rui (82m); 7-2 por Peyroteo (83m).

Doloroso, pois então.

A vingança sportinguista viria numa tarde de chuva, em Alvalade. E dela já há mais gente que se recorde. Eu recordo-me bem: estava lá.

Manuel José Tavares Fernandes. Um bom amigo. Foi imenso.

14 de dezembro de 1986: uma tempestade de golos desfez o Benfica.

Sete-golos-sete.

E apenas 1-0 ao intervalo, golo de Mário Jorge.

Choveu sobre Lisboa. E choveu sobre a equipa encarnada.

Choveu Manuel Fernandes, que marcou o primeiro aos 50 minutos. Respondeu Wando, aos 59, fazendo 1-2. Meade e Mário Jorge, aos 65 e 68 minutos, selam a vitória do Sporting.

Mas faltava ainda chover Manuel Fernandes: 5-1 aos 71 minutos; 6-1 aos 82 minutos; 7-1 aos 86 minutos.

Nunca o Benfica sofrera tantos golos do Sporting. Já tinha sofrido cinco, já tinha sofrido seis. Sete é que nunca. Silvino perdido numa baliza sem fundo.

E, no entanto, o Benfica seria, nessa época de 1986-1987, campeão nacional, com 11 pontos de avanço sobre o Sporting.

Malhas que a ironia tece…

A sua única derrota foi tonitruante: 1-7. Um signo…