O animal feroz deve estar com uma sede inaudita…

Há uns bons anos tive uma discussão acalorada com um grande amigo por causa de José Sócrates e concluímos que não valia a pena irritarmo-nos por causa disso. Nós, no SOL, estávamos a sofrer com as pressões do então primeiro-ministro e a nossa vida estava a andar para trás, dois anos depois de termos mudado…

Há uns bons anos tive uma discussão acalorada com um grande amigo por causa de José Sócrates e concluímos que não valia a pena irritarmo-nos por causa disso. Nós, no SOL, estávamos a sofrer com as pressões do então primeiro-ministro e a nossa vida estava a andar para trás, dois anos depois de termos mudado de rumo profissional. Mas era natural que quem estivesse de fora nos julgasse ‘malucos’ e com ‘manias de perseguição’. Por essa altura deixei de ter conversas com alguns amigos sobre a problemática socrática, causando-me até alguma estranheza que companheiros de viagem desde a infância acreditassem mais no que dizia o animal feroz do que eu que tinha sido assistente do processo Face Oculta, além de que me conheciam desde sempre… Curiosamente, com um desses amigos optámos por cortar uma nota de dez euros ao meio e quando o caso estivesse esclarecido aquele que tivesse perdido entregaria a sua meia nota, reconhecendo a razão ao outro.

Há dois anos esse meu amigo devolveu-me a sua metade da nota, dizendo que estava convencido de tudo o que eu lhe tinha contado na altura. Sócrates ainda é inocente, é certo, mas esse amigo achou que os dados que dispunha lhe permitiam concluir que eu não tinha inventado nada, além de que tinha ficado provado que Sócrates levou uma vida muito pouco consentânea com o ordenado do cargo.

 Durante anos fomos ‘achincalhados’ na praça pública e não havia bicho careta que não perorasse sobre nós e outros (poucos) meios de comunicação social. No PS, figuras como José Lello, João Galamba, Arons de Carvalho, entre muitos outros, só não nos mandaram para a fogueira porque a Inquisição já deixou de estar em vigor há uns bons séculos.

E o que dizer de alguns jornalistas simpatizantes do animal feroz? Faz-me imensa confusão ouvi-los agora dizerem que se enganaram, e que, de facto, a vida que ele levava era muito suspeita. Dizem isso com o ar mais petulante da vida e como se fossem eles que denunciaram as golpadas do outrora guru. Se tivessem vergonha na cara pediriam desculpa a todos aqueles que atacaram ferozmente e alegavam objeção de consciência para mais não falarem do assunto.

Confesso que, pessoalmente, sempre me deu imenso gozo sermos atacados por tais criaturas que não têm, há muitos anos, noção do seu ridículo e de como caminham para um final digno de um filme menor do cinema francês, em que a decadência é retratada através da câmara televisiva. Como dizem os mangas do Algarve, ‘fiquem bem’.

Mas se os comentadores pró-socráticos não passam de uns tristes, o que dizer dos políticos que viveram à sombra do ex-primeiro-ministro e aparecem agora a criticá-lo, dizendo que se sentem envergonhados? Sim, é vergonhoso, e esperemos que se o antigo primeiro-ministro for condenado se lembre de levar alguns consigo para a choldra, como diriam os tais mangas. 

Calculo que a desfiliação de Sócrates do Partido Socialista tenha muito a ver com o desgosto que sofreu na última semana. O animal feroz agora vai mostrar, seguramente, toda a sua fúria, e o alvo da Direita deverá passar para segundo plano: os traidores socráticos que se cuidem, pois o antigo primeiro-ministro deve estar com uma sede inaudita de malhar nos ex-camaradas.

Bem fazem os ex-ministros de Sócrates que se mantêm calados no atual Governo… 

vitor.rainho@sol.pt