‘A posição do PS é lamentável’

António Campos, fundador do partido, diz que a direção socialista ‘feriu de morte a história do PS’

O PS veio a público condenar a atuação de José Sócrates. Julga que o PS mudou de estratégia em relação a este caso?

Sim. Houve aqui uma mudança e, portanto, houve uma reação do José Sócrates. Mudou de disco e isso levou o Sócrates também a mudar de posição. Quem o conhece sabia que ele ia reagir e que não ia suportar que o partido também o estivesse a julgar publicamente em vez de estar a apelar para que o Estado de direito funcionasse. 

Como é que viu a posição do PS?

Acho que é lamentável. O meu partido nasceu com um ADN fundamental que era defender os direitos, as liberdades e as garantias dos cidadãos. E, portanto, ao entrar no julgamento popular feriu de morte a própria história do PS. O que o PS devia fazer era exigir que o Estado de direito funcionasse. 

Concordou com a posição que o PS assumiu nos últimos aque era separar a política da justiça?

Concordei. Era defensável do ponto de vista político. Qualquer reação mais direta do PS poderia contribuir para o mau funcionamento das instituições democráticas, embora eu pense que o PS há muito tempo que deveria estar a reclamar que o Estado de direito funcionasse. Mas mudar de posição, aliar-se ao julgamento popular e embarcar nessa onda é contra todos os princípios do PS e da história do PS. 

Encontra alguma explicação para o PS ter assumido uma posição mais dura?

Não vou entrar em especulações. Mete-me confusão como é que, a pouco tempo do congresso, o PS mete o pé na argola e dá um tiro no pé desta forma. Uma coisa é a questão do Manuel Pinho e outra é a questão do Sócrates. E, mesmo no caso do Manuel Pinho, o que o PS devia fazer era defender que ele seja ouvido pelo Ministério Público, porque é arguido há dez meses. Se fizeram isso a pensar que ganhavam alguma coisa no congresso foi um brutal tiro nos pé.