Dívida e produtividade continuam a condicionar

Análise à conjuntura económica do país aponta para uma melhoria a curto prazo mas aponta para maiores dificuldades no médio e longo.

Dívida e produtividade continuam a condicionar

O Governo assegura que Portugal está no caminho certo. A redução do défice, um maior crescimento, a diminuição do desemprego, são indicadores que alentam perspetivas positivas para a economia portuguesa. Pelo menos no curto prazo. Mas o futuro ainda está carregado de incertezas e no final da semana, nas suas previsões de Primavera, a Comissão Europeia (CE) apontou para um défice um pouco mais elevado do que a previsão do Governo: 0,9%, em vez de 0,7%. E para 2019 a previsão de crescimento – este ano é 2,3%, semelhante à do Executivo – abranda para para 2%. Em vez de crescer acima, o crescimento iguala o da UE e o da Zona Euro. 

As previsões de Bruxelas aponta ainda para um menor consumo privado, a manutenção do ritmo das exportações e importações e que «apesar de algum abrandamento, o turismo deverá continuar a ser um motor fundamental para a manutenção do equilíbrio externo do país».

Em relação ao desemprego, a CE projeta 7,7%, enquanto o Governo antecipa 7,6% a previsão é de 6,8%, abaixo dos 7,6% estabelecidos por São Bento. Bruxelas prevê que Portugal continue a ser uma economia de mão de obra barata, o que deverá permitir criar mais emprego e baixar os números do desemprego. 

«A economia portuguesa está manifestamente mais saudável do que no passado recente», diz ao SOL Jorge Ribeirinho Machado, professor da AESE Business School, explicando que as grandes mudanças foram o «aumento do peso das exportações no PIB, a diminuição do emprego – que é o driver de crescimento do PIB, porque a produtividade tem-se mantido constante – e uma consciência global de que o excesso de dívida pública é uma doença muito séria, que precisa de ser combatida».

Ainda assim, de acordo com a CE a dívida pública baixará para 122,5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano e para 119,5% em 2019.

Daí que, aponta o professor da AESE, a par da falta do aumento da produtividade, uma das grandes debilidades da economia portuguesa é a «enorme dívida pública, que neste momento se paga, mas uma pequena subida dos juros pode tornar o serviço da dívida algo incomportável». Também Eduardo Silva, gestor da XTB, antevê que «as dificuldades poderão surgir se entretanto Portugal não fizer um esforço no sentido de reduzir a divida». Uma posição que é partilhada por Steven Santos, do BiG, que lembra que um «nível de endividamento público e privado que permanece estruturalmente alto» aliado à «ausência de implementação de medidas estruturais que visem a redução da despesa pública» é um dos fatores que limita o nível de crescimento potencial.

Tal como o professor da AESE, Steven Santos aponta ainda para as dificuldades que vêm da «manutenção de baixos níveis de produtividade». Uma preocupação partilhada por João César das Neves. Ao SOL, o professor universitário considera que «por uma transformação setorial da produção que parece tímida e incompleta, os fundamentos do crescimento não parecem nada sólidos». César das Neves lembra ainda que, além da «herança financeira, que implica enorme dívida, pública e privada, e fragilidade bancária», um dos grandes problemas da economia portuguesa está nos «níveis historicamente mínimos em que anda o investimento e a poupança».

Comum na análise destes especialistas é a perceção de que a curto prazo haverá uma melhoria da economia, mas que a médio e longo prazo o cenário surge bastante mais negro.

A estabilidade do programa 

Na apresentação do Programa de Estabilidade (PE) 2018-2022, o ministro das Finanças anunciou que este é o «resultado das escolhas que fizemos nos últimos dois anos» de forma a levar o país a «um porto seguro» para «enfrentar um mundo com riscos e incertezas», o que se consegue com uma «normalização da política orçamental para enfrentar uma conjuntura desfavorável».

Para João César das Neves, o PE «continua a apostar na consolidação orçamental, o que parece uma opção sensata». O professor da Universidade Católica acrescenta que «a situação financeira do Estado mantém, apesar dos avanços recentes, fortes fragilidades e precisa de um esforço continuado».

Também Jorge Ribeirinho Machado considera que o PE «tem um aspeto que é fundamental: a decisão da manutenção da trajetória de diminuição do déficit público».

Segundo o PE, a meta do défice para 2019 é de 0,2%. A partir de então, o Governo estima que os saldos orçamentais até 2022 sejam positivos: 0,7% do PIB em 2020, 1,4% em 2021 e de 1,3% de 2022.

Mas, alerta o professor da AESE Business School, «paralelamente, não vejo medidas (créditos fiscais e não subsídios!) que fomentem a melhoria da produtividade, em especial o investimento privado, a capitalização das empresas e a formação». 

Já Eduardo Silva salienta que em «2018 o pais continuará a beneficiar de uma politica expansionista do BCE» e que este é o fator único «que tem garantido um crescimento forte. Segundo o gestor da XTB, «Portugal não é uma exceção de boa governação nem um exemplo», uma vez que «19 países da UE cresceram mais do que nós em 2017».