O Capitólio é o salão de baile da paróquia

A Câmara socialista enterrou muito dinheiro no Capitólio, que é agora o salão de baile da paróquia

O Capitólio é um barracão mal-amanhado nas costas da Avenida da Liberdade. Onde entronca a Rua do Salitre e por onde antigamente se entrava para o Parque Mayer. A entrada continua estreita e agora os teatros apodrecem, passada a glória de tempos idos e onde já foram enterradas as esperanças de qualquer renascimento teatral da capital. 

Entro pela ruela estreita à procura do teatro Capitólio sem nada que mo anuncie. Aparece-me de esguelha, bem mais pobre do que o tinha visto nas fotos da propaganda. Sinto o mesmo que se sente quando se chega a uma praia de folheto de empresas de viagens. A praia é pequena, o tempo está cinzento, a areia não é branca e tem tudo um ar triste e abandonado. 

‘A Câmara socialista de Lisboa enterrou milhões e milhões de euros no Capitólio, é bom que valha a pena’ – penso eu, enquanto entro. O espaço é vazio, existem cadeiras soltas e bancadas amovíveis, nem sinal de um bar ou espaço de convívio, entra-se diretamente no pavilhão/sala. 

Procuro os lavabos, a escada é tão acanhada como a de uma casa particular. O corredor é impossivelmente estreito, dá para duas pessoas se cruzarem, se tanto. As casas de banho são poucas e não estão limpas. 

É impossível que aquilo obedeça aos regulamentos e não tem condições mínimas de segurança. Não são lavabos, são ratoeiras para matar gente em caso de pânico

A Câmara de Lisboa, através da sua vereadora Catarina Vaz Pinto, fez um concurso de concessão para esta sala. Apesar de terem concorrido empresas conhecidas no mercado, com créditos bem firmados, ganhou uma pequena empresa de Aveiro de quem nunca se ouviu falar. Parece que as empresas produtoras de eventos musicais líderes de mercado foram preteridas porque a Câmara queria as mãos livres para ceder o Teatro quando lhe desse na real gana.

A empresa de Aveiro e a Câmara de Lisboa têm agendados para o Capitólio meia dúzia de espetáculos que não são nem comerciais (êxitos de público e de receitas), nem eruditos, nem fidelizam públicos, nem são expressão de qualquer política cultural.

O dinheiro lá gasto – repito, muitos milhões de euros – tem de ser justificado. Ou havia uma concessão rentável a uma empresa particular para recuperar o investimento, ou havia uma política cultural consistente para lançar novas companhias de teatro ou novas indústrias criativas. Uma de duas. Agora, ‘isto’?

Depois de a Câmara socialista lá ter enterrado muito dinheiro, o Capitólio é agora o salão de baile da paróquia. É cedido de graça, ou quase, a amigos do presidente da Câmara, do regime e sobretudo a quem se disponha a prestar vassalagem a quem nos governa em Lisboa e no país.

É, portanto, um sítio para bons dançarinos, de bom ouvido e pé ligeiro. Não gostei, deve ser porque sou dura de ouvido e tenho pés de chumbo.