Nacional e Santa Clara. Um vento soprou das ilhas

Dois jovens treinadores, Costinha (43 anos) e Carlos Pinto (45) foram responsáveis pela subida de Nacional e Santa Clara

Primeiro subiu o Nacional da Madeira, competentemente conduzido por Costinha numa época sem mácula. Depois subiu o Santa Clara e passamos a ter, de novo, os Açores no centro do futebol português.

Um vento soprou das ilhas…

Claro que quando falamos do Clube Desportivo Nacional, falamos de um veterano. Ou quase.

Campeão da Madeira já na década de 1930, começou a disputar ao Marítimo uma certa supremacia no futebol funchalense. E falamos de um tempo em que os ilhéus eram considerados fortes no conceito nacional, muito por via da forte influência inglesa na zona. Não por acaso, os registos marcam para a Camacha, no Largo da Achada, o primeiro jogo de foot-ball em território português, no ano de 1875.

Como também não foi por acaso que o Marítimo ganhou o Campeonato de Portugal (a versão anterior da Taça de Portugal) na época de 1925-26, batendo o Belenenses na final por 2-0 e cometendo a proeza de despachar o FC Porto na meia-final por uns incríveis 7-1.

É bem verdade que as equipas madeirenses beneficiavam do facto de entrarem diretamente para as meias-finais da competição. As viagens eram longas, complicadas e, sobretudo, dispendiosas. O custo da insularidade era pago com esta benesse. Mas também não deixa de ser autêntico que os madeirenses se deslocavam até ao Continente por 15 dias de enfiada e eram sempre obrigados a disputar esses confrontos em campos alheios. Ah, como são diferentes os tempos de hoje!

Campeão Campeão da II Liga, o Nacional, fundado no dia 8 de dezembro de 1910, chegou à penúltima jornada com quatro pontos de avanço sobre o segundo classificado, o também promovido Santa Clara, e com seis pontos de avanço sobre a Académica de Coimbra, o que não deixa de ser amargamente irónico se nos lembrarmos que Costinha não há muito tempo se viu afastado do cargo de treinador da equipa que foi outrora dos estudantes.

Mas, lá está, falamos de um veterano, já que o léxico estudantil também vem aqui a calhar. Sempre são 18 presenças no escalão maior do futebol de Portugal, com classificações brilhantes: vejam-se os quartos lugares de 2003-04 e de 2008-09 (também atingiu as meias-finais da Taça de Portugal) e os quintos de 2005-06 e 2013-14.

Posições que levaram mesmo os rapazes das riscas brancas e pretas a participar nas competições europeias por cinco vezes – algo que sublinha, naturalmente, no momento do regresso.

Se a história da Madeira no futebol português está escrita com momentos de brilho intenso (o União também já esteve na i Liga), o futebol dos Açores tem sido, ao longo dos anos, visto como um parente pobre das nossas ilhas atlânticas.

Participações esporádicas em eliminatórias da Taça de Portugal nos anos 50 e 60, nas quais se destacaram o Angrense e o Lusitânia, mas apenas para sofrerem derrotas copiosas perante os clubes do Continente. Depois, um raio de sol na água fria com a campanha do Santa Clara na ii Divisão de 1998-99. Aliás, mais ainda: o clube de Ponta Delgada cometeu a proeza de assegurar três subidas de divisão em quatro épocas. Reparem: em 1995-96 militou na Série Açores e subiu à ii Divisão B; em 1997-98 subiu à ii Divisão de Honra; e em 1998-99, finalmente, à primeira.

Carlos Pinto Manuel Fernandes, o grande avançado e capitão do Sporting, fica intimamente ligado à história do Santa Clara. Foi ele o treinador que levou os açorianos ao terceiro lugar da ii Divisão de 1998-99, atrás de Gil Vicente e Belenenses, garantindo a subida.

Carlos Pinto foi, desta vez, o herói do banco. Jovem técnico de 45 anos – Costinha tem 43 –, natural de Paços de Ferreira, já passou por Tirsense, Freamunde, Tondela, Chaves e Paços de Ferreira. Aliás, esta sua passagem pela sua terra natal ficou muito a dever-se aos impulsos do coração. Chegado a Ponta Delgada e ao Santa Clara em 2015-16, cumpriu apenas 18 jogos antes de sair para o Paços de Ferreira. Viagem curta e sentimental: 14 jogos pelos pacenses e ei-lo que regressa a São Miguel para ficar até ao momento mais alto da sua carreira.

Aceite-se: olhamos para o futuro e vemos o Nacional, pela estrutura e passado que tem na i Divisão, mais seguro de se manter na próxima época do que o Santa Clara. Embora, como se pode constatar, os açorianos se tenham agarrado durante três épocas com unhas e dentes ao seu lugar entre os maiores na primeira oportunidade que lhes surgiu de o fazerem. Talvez não tenham saído como favoritos no início deste campeonato, mas eram certamente um dos mais fortes candidatos.

Agora têm sobre as costas uma responsabilidade bem maior: conseguir provar que o futebol da região é futebol de primeira. Porque, até agora, e apesar de terem dado à seleção nacional jogadores como Mário Lino ou Pedro Pauleta, os Açores têm ficado na sombra do jogo que o povo adora. Para já, a festa. Depois, venha o desafio. As ilhas dominaram a ii Divisão. Como um vento que sopra do Atlântico. Um vento de frescura…