Sal Novo – Estuário do Mondego (Figueira da Foz)

A extração de sal é uma atividade milenar, que teve uma extraordinária importância durante o Império Romano, chegando a ser moeda de troca e forma de pagamento. Esta enorme importância histórica do sal está bem presente nos dias de hoje na forma como utilizamos este produto na nossa culinária, nos diversos vestígios arqueológicos relacionados com…

A extração de sal é uma atividade milenar, que teve uma extraordinária importância durante o Império Romano, chegando a ser moeda de troca e forma de pagamento. Esta enorme importância histórica do sal está bem presente nos dias de hoje na forma como utilizamos este produto na nossa culinária, nos diversos vestígios arqueológicos relacionados com as salinas e até na nossa língua, como por exemplo a palavra salário, que resulta da expressão latina, ‘pagamento em sal’.
Tendo passado por um período de grande peso económico-social, durante os primeiros dois terços do século XX, devido às suas capacidades de conservação dos alimentos, progressivamente, com a evolução tecnológica na sua produção e com o surgimento de outras formas de conservação dos alimentos, a atividade das salinas entrou num declínio acentuado. Curiosamente, as raízes culturais que atividades ancestrais geram, foram e são uma excelente boia de salvação de muitos dos ativos portugueses, que os impedem de desaparecer. Também assim tem sido, no que se refere à cultura do sal, das salinas e dos Marnotos.

A cidade da Figueira da Foz percebeu muito bem que para além de tremendamente injusto, seria profundamente irracional esquecer toda uma cultura ligada a este extraordinário produto. A criação do núcleo museológico do sal é um sinal fantástico de como a antropologia, a sociologia e a museologia nos podem dar pistas importantes para o futuro. Preservando a memória e o legado do passado, os Figueirenses criaram uma nova dinâmica para as salinas do Estuário do Mondego, que envolve a museologia, a cultura, a sociologia da comunidade de Marnotos que ali se instalou e que tendia a desaparecer.

Felizmente o investimento efetuado na valorização das salinas está a dar frutos, não só na componente cultural, mas também turística e, talvez surpreendentemente, a ‘cereja no topo do bolo’, tem sido a crescente adesão de jovens famílias, compostas por casais, com formação de ensino superior, que estão a fazer das antigas salinas o seu futuro profissional.

Ver uma nova geração de empreendedores que colocam os conhecimentos que adquiriram em diversas áreas, ao serviço de um objetivo de tornar rentável as atividades relacionadas com o sal, inovando e respeitando a tradição, trabalhando de forma fascinante os novos conceitos do produto, criando, reinventando e utilizando o design da embalagem como forma de mostrar ao mundo que conseguimos criar produtos únicos… dá-nos uma enorme esperança de que uma nova energia, um novo sangue está a emergir no sal… e na economia do mar…

E é para nós um sinal de que o futuro azul está a ser construído de forma real e sustentada e não apenas virtual ou digital, existindo espaço para uma grande componente de produto física, trabalhada por mãos humanas, onde as pessoas contam…

*Sócio da PwC