Turismo: da Portela aos imigrantes

O Turismo gerou no ano passado, 21 milhões visitantes, 57 milhões de dormidas, 15 mil milhões em receitas, e 323 mil postos de trabalho. Deve merecer toda a atenção 

Um destes dias entrei num dos meus restaurantes habituais, onde um velho amigo dos tempos do liceu tem as funções de gerente (ou algo parecido). 

Fui atendido por brasileiros, simpáticos, afáveis, atenciosos. E profissionais? Isso é outra conversa. Os rostos sucedem-se, as caras de outras semanas são raras. Ouço um desabafo desse meu amigo: «E estou com sorte quando vêm!». «Caramba!, digo eu… Podes explicar melhor?». Retorquiu: «Não há tugas para trabalhar, temos de viver com os brasileiros que aparecem, quando aparecem». 

Fico por aqui para referir o seguinte: há um boom turístico em Portugal que precisa de ter correspondência em mão-de-obra qualificada. O turismo, que inclui a hotelaria e a restauração, vive neste momento de muita mão-de-obra brasileira perante a escassez de mão-de-obra nacional.

Ouvi outro dia dia Francisco Calheiros na sua tomada de posse para o terceiro mandato à frente da Confederação de Turismo Português. Foi muito claro no seu discurso, identificando diversas prioridades – reiterando, entre estas, a necessidade de existir pessoal qualificado para o turismo que pretendemos desenvolver. «O sistema de ensino profissional tem de estar preparado para formar não só em quantidade mas sobretudo em qualidade, porque de outra forma não é possível responder à procura com excelência», disse Calheiros, com toda a razão! Mas, infelizmente, estes ‘ensinos profissionais’ não anteciparam a questão – e as propostas, mesmo que reativas, tardam imenso. 

Deste modo, há que trazer mão-de-obra de outros países e acelerar os pedidos de vistos de residência, os quais, segundo dizem, demoram perto de 1 ano a serem concedidos (cerca de 29 mil em 2017, crescendo 19% face a 2016). 

Eu bem sei que todas as moedas têm duas faces, e a negativa subjacente a este problema é que esses jovens ou adultos, mal se apanham com o visto, de imediato tentam a migração para outros países do espaço Schengen. O ótimo é mesmo inimigo do bom, e encontrar a virtude nesta contradição de interesses entre Portugal e os imigrantes é um autêntico ‘ovo de Colombo’.

Mas se as pessoas são um problema a resolver, que dizer do tema das chegadas ao aeroporto de Lisboa, em que de novo se ouve falar em 2 horas de espera? 

Montijo virá lá para 2022 (ou 2023?), agora que o estudo de impacto ambiental se encontra terminado e viabiliza o projeto, e os «riscos identificados – leia-se fauna, flora e ambiente sonoro» são suscetíveis de ser geridos (ou monitorados). 

Até lá, o constrangimento decorrente do facto de a Portela (desculpem, Aeroporto Humberto Delgado) estar sobrelotada (26 milhões de passageiros e 185 mil movimentos) não irá ficar resolvido. Donde, tendo de viver com esta realidade, temos de adaptar as infraestruturas existentes à procura. Mais soluções e menos queixas é o que o país exige dos governantes. E, sendo o SEF dependente do Governo, há apenas que apoiar a sua eficiência, ou seja, dotá-lo de meios para resolver o berbicacho das chegadas.

Volto ao Turismo, setor que gerou em 2017 cerca de 21 milhões de visitantes, 57 milhões de dormidas, 15 mil milhões de receitas, e é responsável por 323 mil postos de trabalho (44 mil novos agora). Assim, deve merecer toda a atenção nacional. 

Já uma vez o referi: por que não dotar o turismo de um Ministério? Tanta coisa por resolver, novas centralidades nas cidades a definir, encontrar atrações para cativar o turismo, tudo isto carece de um organismo tutelar com poder equiparado de coordenação com novos ministérios. 

Até lá, vamos vendo cada um para seu lado, sobretudo com uma Cultura e seus museus e monumentos a gerir centralmente os seus orçamentos e a distribuir consoante as suas prioridades, porventura sem dar a consideração devida à conservação de alguns deles, perfeitamente emblemáticos das suas cidades e obviamente do turismo.

P.S. 1 – Esta greve dos médicos pode ser legítima, pode ajudar a resolver no futuro grandes problemas, mas no presente causa seguramente traumas escusáveis. Dito de outra forma, foi anunciado que cerca de 18 mil cirurgias iriam deixar de ser feitas nos 6 dias de greve. Mas será que não poderia haver bom senso nestas opções de greve, não adiando cirurgias inadiáveis em que o tempo conta e o doente padece – como, por exemplo, para extirpar tumores malignos? 

P.S. 2 – Marcelo falou e disse: «Não me recandidato se algo voltar a falhar nos incêndios». Uma posição de alguém que tem desapego ao lugar, que chegou à política como corolário de uma carreira e, sobretudo, que não tem qualquer vergonha de dizer que tem vergonha. Uma lição para tantos para quem a política é mais do que um modo de vida – é uma forma de trepar na vida!