Sporting. Terramoto – parte 53. E fim da linha para os capitães

Na ressaca da derrota na Madeira, que tirou os leões da Liga dos Campeões da próxima temporada, Rui Patrício e William Carvalho quase foram agredidos por adeptos em fúria. Bruno de Carvalho reuniu-se com jogadores e treinador: a seis dias da final da Taça, o Sporting está novamente a ferro e fogo

Um fim de temporada sem polémica no Sporting não faria jus ao que foi toda a época 2017/18. Se, nos primeiros anos como líder máximo dos leões, Bruno de Carvalho adotou um discurso bélico e de confronto para com os rivais, nos dois últimos – e particularmente neste em questão – resolveu virar-se para dentro da própria casa e arrasá-la de cima a baixo sempre que achou pertinente fazê-lo.

Terá, provavelmente, legitimidade para tal, até porque quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro, como diz o povo. Tem, porém, um handicap tremendo: os timings que escolhe para abanar os alicerces da própria casa têm sido, por norma, terrivelmente escolhidos. Como voltou a acontecer ontem. Na ressaca da derrota com o Marítimo, no Funchal, que tirou o Sporting do segundo lugar – e consequente apuramento para a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões -, e quando faltam seis dias para a final da Taça de Portugal, onde os leões vão enfrentar o Aves, Bruno de Carvalho convocou reuniões de caráter urgente com a equipa técnica liderada por Jorge Jesus, com os jogadores e com a equipa médica, a fim de abordar o desaire na Madeira e outros assuntos que considerou pertinentes.

Ao fim da tarde, os vários meios de comunicação de especialização desportiva começaram a difundir a informação de que Bruno de Carvalho havia decidido suspender o treinador e respetivos adjuntos. Deste modo, Jorge Jesus já nem seria o treinador na final da Taça de Portugal – Luís Martins, treinador da equipa B, e Nélson, antigo guardião e agora treinador dos guarda-redes dos leões, foram apontados como os substitutos imediatos de Jesus no banco no Jamor. Mais: Jesus estaria mesmo a braços com um processo disciplinar, estando no ar a hipótese de Bruno de Carvalho avançar com o despedimento do treinador – com quem tem mais um ano de contrato – com justa causa, embora os motivos para tal cenário sejam para já desconhecidos.

Bruno nega suspensões Depois de mais de três horas de reuniões, Bruno de Carvalho acabou por aceder a falar, por breves instantes, com as dezenas de jornalistas que o esperavam à porta do parque de estacionamento do Estádio de Alvalade. Nesta intervenção, além de insultar comentadores da TVI, o presidente leonino desmentiu as notícias veiculadas durante a tarde. “Estão quatro comentadores há horas num programa a fazer figura de ursos, não têm dúvidas nenhumas – se calhar, têm é informações para me dar a mim. O jogo de ontem prejudicou o Sporting, fez-nos perder bastantes milhões que já estavam contabilizados, e isso origina várias mudanças. Mas têm de esperar um bocado para que o Bruno suspenda o Jesus”, disparou, ao seu estilo.

De facto, a suspensão de Jorge Jesus ainda não está oficializada – o que não invalida que tenha sido abordada na reunião, até porque o técnico estará impedido de orientar o treino da equipa esta tarde. Por esse motivo, o técnico reuniu-se com o advogado assim que terminou o encontro com Bruno de Carvalho.

Um processo disciplinar, refira-se, será sempre moroso, pois é preciso obedecer a uma série de etapas – a SAD leonina, por exemplo, terá de enviar uma nota de culpa a Jesus 60 dias após ter tomado conhecimento da eventual infração, com o técnico a ter dez dias úteis para responder à mesma.

O cenário do despedimento com justa causa, em caso de fim de linha efetivo na relação Bruno-Jesus, é o ideal para a administração do Sporting: é que Jorge Jesus tem contrato por mais um ano e a rescisão unilateral do mesmo implicaria o pagamento de sete milhões de euros ao treinador – um luxo a que a direção liderada por Bruno de Carvalho não se pode dar.

Capitães ao lado de Jesus Pouco depois de saírem as notícias sobre a alegada suspensão de Jorge Jesus, os mesmos meios revelaram que, em solidariedade para com o treinador, Rui Patrício e William Carvalho, os capitães leoninos, mas também Bruno Fernandes, quiçá o melhor jogador deste campeonato, se iriam recusar a subir ao relvado na final de domingo. Se tal se vier a verificar, poderá estar em cima da mesa igualmente a instauração de processos disciplinares aos jogadores em questão.

Ontem foi, de resto, um dia acidentado para Patrício e William. Os dois internacionais portugueses já estão há algum tempo debaixo da mira dos adeptos – e do próprio Bruno de Carvalho, que lhes fez críticas veladas (e bastante explícitas) nos célebres posts no Facebook) -, e agora foram apontados como principais culpados pela derrota frente ao Marítimo, nomeadamente o guardião, devido ao frango monumental que valeu o 2-1 aos madeirenses já nos descontos.

Logo à saída da equipa do estádio para o autocarro, ainda no domingo à noite, os adeptos não esconderam o seu desagrado. O pior, porém, estava guardado para a chegada da equipa a Alvalade, já de madrugada: cerca de duas dezenas de adeptos entraram na garagem do estádio para pedir esclarecimentos aos jogadores e acabaram por quase agredir Rui Patrício e William Carvalho, que também aí só intervieram na situação para defender Jorge Jesus – o treinador havia saído primeiro para tentar serenar os ânimos, mas não o conseguiu, acabando ele mesmo por ser ameaçado. O leão a ferro e fogo, seis dias antes de poder levantar mais uma Taça.