A tortura da matemática

A matemática é o calcanhar de Aquiles dos nossos alunos. Nesta matéria os números não mentem e todos os anos os resultados nos exames são devastadores. Perante as evidências devemos colocar a questão: para que serve afinal a matemática? De forma rápida, parece-me que serve sobretudo para estruturar o pensamento, para ser usada em situações…

A matemática é o calcanhar de Aquiles dos nossos alunos. Nesta matéria os números não mentem e todos os anos os resultados nos exames são devastadores.

Perante as evidências devemos colocar a questão: para que serve afinal a matemática? De forma rápida, parece-me que serve sobretudo para estruturar o pensamento, para ser usada em situações básicas e essenciais do dia-a-dia e noutras mais complexas para quem trabalha com números. Assim sendo, faria sentido que esta disciplina fosse apresentada e ensinada como uma matéria prática, onde se pudesse encontrar sentido e utilidade. Mas nem sempre é isto que acontece.

A matemática do jardim-de-infância é a que é ensinada da forma mais adequada. As crianças aprendem a contar com um propósito e naturalmente – para escolher a quantidade de bolas necessárias para um jogo, para dividir os meninos em vários grupos, para pôr a mesa sem que nenhum menino fique sem prato ou talheres. Aprendem sem se aperceberem e quando chegam à primária já sabem algumas contas simples. Mas é aí que a coisa se complica. Os números rapidamente vão ficando maiores, as adições tornam-se mais difíceis e quando a maioria ainda não as domina já estão a fazer contas de diminuir, segmentos de reta, a decompor números de forma que não faz sentido na cabeça das crianças e a elaborar esquemas complexos. A matemática torna-se uma matéria distante e abstrata.

Estas metas curriculares foram com certeza feitas por pessoas muito otimistas e com expectativas muito altas. Não são os nossos alunos que são burros, é sobretudo o programa que é desadequado. Porque não suscita curiosidade nem dá prazer, é demasiado extenso, exaustivo, e só poderia funcionar com uma população motivada para aprender, extremamente concentrada na sala de aula, com bastante maturidade e disciplina, que chega a casa com vontade de consolidar matéria – ou seja, o oposto da maioria das crianças.

Foi recentemente sugerida uma redução da carga letiva desta disciplina e logo a Sociedade de Matemática veio demonstrar o seu desagrado. Mas não é por estudarem até à exaustão que as crianças vão conseguir aprender ou que os professores vão conseguir ensinar. Não é por criarmos programas ambiciosos que vamos ter génios da matemática. Muito pelo contrário. Os professores vêem-se gregos para conseguir debitar a matéria exigida, sentem os alunos a fracassar e nada podem fazer, têm de continuar, sempre com o cumprimento das metas em vista, porque a corrida não pode parar. Quem vai ficando para trás é atropelado pelo programa que entra ininterruptamente. As crianças sentem-se cada vez mais perdidas e sem capacidade para acompanhar a matéria. O resultado não é difícil de prever: umas insistem e sentem-se continuamente frustradas, outras seguem o caminho mais fácil e desistem.

Se professores, alunos e pais não se conseguem entender com este programa, então para quem ele foi feito afinal?