Manuel Pinho deverá voltar a ser constituído arguido no caso EDP

Nulidade foi declarada pelo juiz por causa de «irregularidades» formais. MP vai recorrer 

Manuel Pinho deixou de ser arguido no caso das rendas excessivas cobradas pela EDP. O juiz de instrução criminal, Ivo Rosa, detetou «irregularidades» nos procedimentos, dando razão à defesa do ex-ministro. No entanto, o Ministério Público vai recorrer desta decisão, sabe o SOL. Em relação à EDP/ CMEC (contratos das rendas de energia), como os crimes prescreveram em julho de 2017, muito dificilmente esta situação pode se revertida. No entanto, o MP pode ainda constituir arguido o ex-ministro neste processo com base nos novos indícios que recentemente o procurador que lidera o caso, Carlos Casimiro, recolheu do processo Operação Marquês e do caso BES. Em causa estão registos financeiros de uma ‘avença’ que Manuel Pinho recebeu de 2002 a 2014 do saco azul do GES.

De acordo com a decisão do juiz, a que o SOL teve acesso, a nulidade da constituição de arguido passa por «irregularidades» nos «cuidados formais» e procedimentos adotados pelos procuradores. É o caso da audiência não ter sido realizada «imediatamente» quando Manuel Pinho foi constituído arguido ou de não lhe terem sido comunicados «os factos que lhes são imputados e nem os meios de prova que sustentam essa imputação».

O juiz decidiu ainda, como consequência, declarar a «ilegalidade e extinção» do termo de identidade e residência, medida de coação a que o ex-ministro estava sujeito.

Além de Manuel Pinho, foi ainda declarada a nulidade da constituição de arguido a Miguel Barreto, ex-diretor-geral da Energia.

Manuel Pinho foi constituído arguido no processo EDP a 03 de julho de 2017. O dinheiro recebido por Pinho seria uma contrapartida paga por Ricardo Salgado para que, na altura, o ministro tomasse decisões que beneficiassem a EDP, da qual o BES era acionista. As decisões de Manuel Pinho terão garantido à EDP pagamentos na ordem de 2,5 milhões de euros, desde 2007. Documentos revelaram que o ex-ministro terá recebido um total de 2,1 milhões de euros do saco azul do GES, com verbas que foram pagas entre 2002 e 2014. A grande fatia deste valor, 1,8 milhões de euros, terá sido paga do saco azul do GES durante uma década, entre 2002 e 2012, através de transferências mensais fixas de cerca de 15 mil euros. E, deste valor, 795 mil euros terão sido pagos enquanto Pinho esteve em funções no governo, entre 2005 e 2009.

O caso levou o Parlamento a aprovar por unanimidade a constituição de uma comissão de inquérito para investigar as ligações de Manuel Pinho às rendas excessivas cobradas pela EDP e ao GES. Na altura, o advogado Ricardo Sá Fernandes fez saber que o ex-ministro se vai remeter ao silêncio no Parlamento, caso não seja ouvido pelos procuradores do Ministério Público antes da sua ida à Assembleia da República.