O que esteve na origem do conflito entre as Coreias?

No passado mês de abril, o encontro entre os líderes coreanos Kim Jong-Un e Moon Jae-In percorreu o mundo com a notícia de que estaria para terminar uma guerra com décadas de existência. Mas sabe o que esteve na origem deste conflito?

Tudo começou quando a Península Coreana pertencia à China e, em 1910, perdeu o controlo do território para o Japão. Durante esta época existiam regras extremamente rigorosas, tais como a proibição da língua local, desautorização de manifestações culturais. Para além disso, não era permitida a leitura de livros coreanos e milhões de habitantes não se puderam registar com nomes locais, tendo sido obrigados a adotar nomes de origem japonesa.

Com o início da II Guerra Mundial, e cerca de 20 anos após o início deste domínio colonial, o governo instaurado pelos japoneses na Coreia tornou-se ainda mais evidente, uma vez que os cidadãos coreanos foram obrigados a defender militarmente o Japão, representando mais de 32% da sua força militar na guerra. Ainda assim, os coreanos aliaram as suas forças aos americanos e a derrota japonesa começou a torna-se uma realidade.

O paralelo 38

Através desta aliança de forças, a esperança dos coreanos era garantir a independência do seu país, mas os Estados Unidos e a Rússia acordaram o ‘paralelo 38’, que representa a divisão da Península Coreana, através de uma linha imaginária de 38 graus ao norte do Equador. Deu-se assim origem a dois Estados coreanos: o norte, entregue à influência soviética, e o sul, entregue aos americanos.

Kim II- Sung assumiu-se como governante da Coreia do Norte, já Syngman Rhee ficou à frente da Coreia do Sul. Ambos tinham como objetivo reunificar a Coreia, mas apenas sobre uma única liderança. Deste modo, o líder da Coreia do Norte pediu apoio a Pequim e a Moscovo numa possível guerra com o sul e atravessou o chamado ‘paralelo 38’, acusando os sul-coreanos de serem os primeiros a pisar a linha e a quebrar o acordado. A 25 de junho de 1950 arrancava oficialmente a Guerra na Coreia.

Durante três anos devastadores de guerra – 1950 a 1953-, a China e a União Soviética prestaram o seu apoio à Coreia do Norte, já a Coreia do Sul teve do seu lado a Austrália, os Estados Unidos, a Nova Zelândia e a ONU.

Resultaram deste confronto – em que o norte estava em larga maioria – cerca de 1 milhão de mortos e 1,5 milhões de feridos.

A 27 de julho de 1953 foi assinado um armistício que deu fim ao conflito – apesar das duas nações nunca terem assinado um tratado de paz que colocasse oficialmente fim à guerra – e foram restabelecidas as fronteiras sobre o paralelo 38º Norte.

A luz ao fundo do túnel

Hoje o cenário é o que todos conhecemos ou, no caso da Coreia do Norte, aquilo que nos é permitido saber. Pelo meio imensas famílias ficaram separadas e a Norte, num país liderado por Kim Jong-un, a população vive fechada para o mundo numa ditadura de autosuficiência. A Sul, o país é conhecido pela sua eficiência tecnológica, o crescimento económico demonstrou uma óbvia superação da guerra e vive-se numa república democrática.

Sessenta e cinco anos depois, os líderes coreanos deram que falar acerca daquele que poderia ser o encontro que iria terminar com o conflito e resultar num tratado de paz. Foi esta a primeira vez na História que um líder norte-coreano cruzou a fronteira para o sul – lembre-se que o encontro ocorreu no paralelo 38, a zona desmilitarizada de Panmunjom, conhecida também como a “aldeia da trégua”. Anteriormente, tinham acontecido apenas encontros entre presidentes dos países em 2000 e em 2007, ambos em Pyongyang, capital da Coreia do Norte.

Sem esquecer que a dinastia Kim comanda a Coreia do Norte há três gerações e quase 70 anos, durante este período de poder têm acontecido variadas crises e ameaças – veja-se o exemplo do Japão, ou mais recentemente com os EUA- tentando passar a imagem de que o país está a desenvolver um forte arsenal nuclear para possíveis conflitos militares.

Para muitos, o diálogo entre os líderes coreanos e consequente acordo de paz seria uma forma da Coreia do Norte diminuir, ou até mesmo terminar com as punições internacionais que travam o desenvolvimento socioeconómico do país, mas também uma forma de retirar as tropas norte-americanas que estão na Coreia do Sul.

No século XXI e no mundo onde a guerra continua a ser uma realidade, o fim definitivo do conflito entre dois países que se mostram incompatíveis era um passo na direção da paz, mas também a reunião daqueles que se perderam devido ao confronto. Mas tudo foi ‘por água abaixo’ na semana passada, quando a Coreia do Norte decidiu congelar as conversações com o Sul.

Em causa estiveram exercícios militares conjuntos entre os EUA e a Coreia do Sul. Na sequência desta decisão, Kim Jong-un ameaçou mesmo cancelar a cimeira com Donald Trump. Na semana passada, o presidente dos EUA chegou mesmo a comparar o líder norte-coreano com o ditador líbio Muammar Khadafi: "O modelo, se encararmos o que aconteceu com Khadafi, representa uma dizimação total (…) Chegámos lá para o derrotar. Esse modelo pode acontecer [com a Coreia do Norte] caso não consigamos um acordo, muito provavelmente. Mas se chegarmos a um acordo, acho que o Kim Jong-un ficará muito, muito feliz”.