A pensar em 2021, PSD cria conselho de autarcas

José Silvano, novo secretário-geral, olha a preparação autárquica com ambição e também no Conselho Nacional há agora foco local.

A dois dias de Rui Rio cumprir uma centena de dias como presidente do PSD, cheira a paz no partido. A liderança de Rio começa a gerar hábito, a sede nacional já manobra estratégia e a articulação entre estruturas vai passando de rascunho para moldura. Pode não ser uma moldura que agrade a todos – afinal, quem agrada? – e com arestas por limar, nomeadamente no grupo parlamentar, mas já se trata de uma moldura de exibição menos tímida. 

Quadros de protagonismo no tempo de Pedro Passos Coelho, como o ex-ministro Miguel Poiares Maduro, reconhecem que se deram «dificuldades iniciais» mas que se tem vindo «a melhorar» [DN]. E ao SOL o secretário-geral do partido, José Silvano, reconhece que figuras do PSD que antes não estiveram com Rio vêm agora demonstrando «disponibilidade para contribuir» para o partido. 

«Hoje, já estão cada vez mais reunidas condições para a mobilização», aponta o social-democrata. Tanto de militantes quanto de eleitores. 

Ainda em breve conversa com o SOL, Silvano destaca a importância do trabalho a realizar pelo Conselho Estratégico Nacional (CEN) e entre as distritais. Além do já conhecido modelo, o secretário-geral revela também a criação de um conselho de autarcas do PSD, «recentemente aprovado», para reunir e organizar regularmente as estruturais locais e concelhias com o trabalho do partido em cada município – seja na Oposição, seja na governação. 

A necessidade de preparar as autárquicas catalisou a iniciativa, sendo que essa preparação para 2021 tem sido consistentemente abordada no PSD pós-passista. Rio referiu-a durante as diretas contra Pedro Santana Lopes, o próprio José Silvano reforçou-a ao SOL e recentemente numa sessão da Assembleia Municipal de Mirandela («A melhor forma de ganhar em 2019 [legislativas] é preparar 2021 [autárquicas]») e de igual modo no Conselho Nacional do PSD, que é o órgão maior do partido, se tem sentido essa prioridade por parte de dirigentes e autarcas com vontade de ripostar face ao desaire laranja de 2017. 

A segunda força mais representativa no Conselho Nacional, eleita logo a seguir à lista oficial de Rio e Santana, anunciou esta semana (Público) que irá apresentar um conjunto de propostas à direção do partido, precisamente numa lógica de reforma e preparação autárquica. Ainda ao SOL, Silvano confirma «a total disponibilidade» da secretaria-geral do partido para estender a colaboração do conselho de autarcas ao Conselho Nacional e a contributos desse tipo.

Almoço nada Vago

Não é, então, somente na sede nacional que se vai afinando a orquestra. Também os dirigentes nacionais do partido começam a preparar contributos mais ativos e diretos para a liderança de Rui Rio, que teve começo atribulado, mas vai desse modo estabilizando. Os propositores do pacote de pré-reforma autárquica, da referida segunda força mais votada do Conselho Nacional, reuniram o fim de semana passado em Vagos, em almoço que contou com autarcas e deputados. 
Salvador Malheiro, vice-presidente de Rui Rio, que foi seu diretor de campanha e também presidente dessa distrital, diz ao SOL que estava ao corrente da reunião, sendo uma «reunião perfeitamente normal para quem apresentou uma lista ao Conselho Nacional, no sentido de concertar uma estratégia entre todos os membros, num partido com a dinâmica do PSD». «Não tem nada a ver com oposição concertada, antes pelo contrário. Tem de ser encarado com boa-fé», conclui ao SOL o também presidente da Câmara de Ovar. 

Encabeçados por Carlos Eduardo Reis, os parlamentares e dirigentes asseguram que se trata de uma reunião de «construção» e não de Oposição. Já em entrevista a este jornal, em março, Reis deixara claro que «a unidade interna se constrói todos os dias», tendo a sua lista exibido posições de solidariedade para com a direção do partido desde o congresso na antiga FIL, em janeiro. Foi assim com a atribulada eleição de Fernando Negrão para o grupo parlamentar, com a mediática saída de Feliciano Barreiras Duarte, depois substituído por Silvano com confortável ratificação e, pelo menos, no que a propostas políticas diz respeito, assim se continua, apesar de vários dirigentes a seu lado (como os deputados Sérgio Azevedo e Joana Barata Lopes) terem antes apoiado Santana para presidente do partido.

Ao SOL, o cabeça-de-lista optou por não se alongar acerca do encontro no distrito de Aveiro («Sim, foi uma reunião que correu bem»), ainda que confirme que a lista apresentará as propostas à liderança na próxima reunião do Conselho Nacional, esta terça-feira, em Leiria. A longo prazo o contributo não se prenderá exclusivamente com política local.