Trump ou Plácido Domingo?

E se Marcelo sugerisse ao Rei de Espanha o nome de Placido Domingo para Nobel da Paz?

Li algures que Trump poderá ser proposto para Nobel da Paz. Quero acreditar que seja uma infeliz brincadeira, mas, nestas coisas, nunca se sabe. Se tudo correr como se deseja na península da Coreia… 

Entretanto, num gesto de ‘paz’, Trump resolveu mudar a Embaixada dos EUA para Jerusalém e morreram dezenas de pessoas nos protestos já esperados. Na lista dos laureados há quem tenha causado muito mais mortes, mas o mandato de Trump ainda não acabou. 

Cogitando nestas coisas, dei por mim a ouvir a voz rouca de Louis Armstrong, a soletrar os espantosos versos de What a Wonderful World. Fui ao Google: ano de lançamento da canção 1968, Prémio Nobel da Paz desse ano, René Cassin. Alguém lembrará quem foi e o que fez o estimável cavalheiro? Quem fez mais pela Paz? A obra, que ninguém recorda, de Monsieur Cassin, ou a doce toada «And I think to myself, What a Wonderful World. Oh Yéeee…»?

A pergunta persistia, incomodativa, e eis que no ecrã da memória começam a desfilar as paisagens do filme Bom Dia Vietname, que Barry Levinson realizou em 1987. Ora, quem foi o Nobel da Paz de 1987…? Oscar Arias Sanchez. Estou certo de que o filme, a música, a fotografia e a sentida interpretação de Robin Williams contribuíram mais para a Paz que todos os feitos do costa-riquenho.  

Volto ao Google para recordar os Nobel da Paz e encontro: Martin Luther King, 1964; Madre Teresa de Calcutá, 1979; Dalai Lama, 1989; Nelson Mandela, 1993; Muhammad Yunus, 2006 − os únicos já certificados pela História, pois ainda é cedo para sabermos se Malala Yousafzai terá direito a um lugar na galeria dos indiscutíveis. Contradição por contradição, na extensa lista não consta o nome de Mahatma Gandhi, cinco vezes nomeado, entre 1937 e 1948, e outras tantas reprovado. A batota terá sido tal que o Nobel da Paz não foi atribuído em cinco anos seguidos desse período negro: 1939 a 1943.    

Interrogando-me sobre quem anda há mais anos a espalhar pelo mundo mensagens de Paz, cheguei, facilmente, a Plácido Domingo. Ninguém contestará que o canto, a música e o teatro anestesiam o mal e predispõem para o bem, fazendo mais pela Paz e pela reconciliação de povos divididos que todos os discursos da ONU. Não foi em vão que, ao longo de uma carreira de mais de 60 anos, o cantor foi agraciado por governos de todos os matizes, e por academias que cultivam todos os géneros das artes. Em obra feita a favor da Paz, não vejo quem mais possa reunir uma tão grande convergência de opiniões.

Recuso analogias com o último Nobel da Literatura – o tema não é para aqui chamado. O meu ponto é diverso: pensando nos vivos, em obra feita pela Paz, só encontro paralelo no Papa Francisco, mas parece que a Academia Nobel evita o melindre da questão religiosa… apesar do Dalai Lama.  

E se a iniciativa de propor Plácido Domingo para Nobel da Paz partisse de Lisboa? E se fosse o Presidente de Portugal a sugerir ao Rei de Espanha uma proposta conjunta de Portugal e Espanha? A ideia é nossa, o cantor é espanhol… para o mundo ficaria o bom exemplo.