Ásia. Filipinas traçam as linhas de guerra com a China

Rodrigo Duterte ameaça morder a mão que o alimenta caso Pequim comece a explorar sozinha os combustíveis fósseis no mar Meridional.

As tensões militares em torno dos territórios disputados no mar da China Meridional vão e vêm como as marés. A última, porém, deu à costa as mais beligerantes declarações contra a expansão chinesa dos últimos anos, através de uma rede de ilhas artificiais e militarizadas. Rodrigo Duterte, o presidente das Filipinas, fez esta terça-feira saber que entrará em guerra contra Pequim caso os chineses comecem a explorar sozinhos as grandes reservas de petróleo e gás natural que existem no mar Meridional.

“Ninguém pode extrair de lá e sozinho os recursos naturais”, afirmou esta terça o ministro dos Negócios Estrangeiros, Alan Peter Cayetano, dizendo que a linha vermelha estabelecida pelas Filipinas já foi comunicada a Pequim. “O presidente já o declarou. Se alguém tentar levar os recursos naturais do mar da China Meridional da costa ocidental das Filipinas, ele entrará em guerra.”

As declarações de Peter Cayetano, muito mais que uma possível declaração de guerra – na qual ninguém, por enquanto, acredita –, podem sinalizar uma oscilação importante nas Filipinas. Duterte ascendeu ao poder prometendo uma relação menos dependente dos Estados Unidos e mais próxima da China, que promete fundos para a diversificação económica em Manila e de quem Duterte já recebeu empréstimos no valor de centenas de milhões de dólares para a compra de material de guerra chinês. Em troca, Duterte adotou uma postura mais serena quanto à expansão de Pequim no mar Meridional, por onde passa um grande volume do comércio marítimo mundial e onde se encontram grandes reservas de combustíveis fósseis.

Duterte, todavia, traça a sua linha vermelha em relação aos recursos naturais que, já afirmou, quer explorar em parceria com os chineses. A fronteira é ténue e duvidosa, visto que, ainda há duas semanas, o presidente filipino não censurou o envio de mísseis chineses para as mesmas ilhas artificiais que Xi Jinping prometeu não militarizar em 2015.

Mas, num momento em que EUA e China regressam às velhas práticas da confrontação, a ameaça militar filipina, por muito incendiária que seja, pode alimentar um dos mais acesos focos de tensão na Ásia. Manila, na verdade, pretende também extrair concessões chinesas no que diz respeito a exercícios militares e a pescas.

As Filipinas, sob Duterte, são uma incógnita na lógica mais vasta do confronto entre China e EUA no mar Meridional. Washington tenta mobilizar para o seu lado os países com territórios contestados – como a Malásia, o Brunei e o Vietname – para travar as novas instalações militares chinesas.

O confronto frio entre as duas potências caiu na invisibilidade no período cor de rosa das relações entre Donald Trump e Xi Jinping, mas, nas últimas semanas, em plena confrontação comercial, as manobras militares recomeçaram. Este fim de semana, dois navios de guerra americanos passaram ao largo de uma das ilhas artificiais a menos de 12 milhas náuticas de distância, num exercício de livre navegação com o qual pretendem sinalizar que não reconhecem a formação terrestre como território chinês.

Pequim respondeu dizendo que os americanos “violaram gravemente a soberania chinesa”.