Itália. A Liga parte à conquista

O primeiro-ministro indigitado fala em novas possibilidades de governo, mas Salvini já só pensa em capitalizar com eleições antecipadas

A Itália regressará nos próximos meses às urnas e a maior esperança dos que procuram evitar uma grande vitória dos nacionalistas é fazer com que as novas eleições ocorram mais tarde que cedo. Era isso que tentavam orquestrar ontem o presidente italiano; o mais recente tecnocrata que nomeou para formar novo governo; e Luigi Di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas e a outra face do populismo nacional, que teme uma nova escalada da Liga nas sondagens e procura um novo governo de entendimento. Agastado, Di Maio desconvocou ontem os protestos contra o presidente Sergio Mattarella e suavizou o discurso. Quer tentar de novo com o xadrezista do momento, Matteo Salvini, que, de todos, é quem mais beneficia da instabilidade, dos ataques europeus ao seu programa de governo e até dos ataques de Di Maio a Mattarella. 

Na segunda-feira surgiram já indicações de que a subida das últimas semanas nas intenções de voto para a Liga se intensifica. O partido xenófobo e eurocético que conquistou o seu capital político no combate à imigração e às ordens austeritárias europeias –e que, até às eleições de março, se chamava Liga Norte, recordando as suas origens secessionistas – surgiu no início da semana com 27,5% das intenções de voto para as próximas eleições, o que representa uma escalada de dez pontos percentuais em relação aos 17,3% obtidos em março. Ontem, a Liga surgia numa consulta com 25,4% – nesta sondagem, o Movimento 5 Estrelas mantém-se o mais votado, nos 32,6%. 

Salvini e a Liga têm muito a ganhar com novas eleições e é isso que Mattarella e Di Maio – atualmente numa amizade gélida, de conveniência – pretendiam evitar ontem. Mattarella nomeou esta semana o tecnocrata Carlo Cottarelli para liderar um governo capaz de aprovar um orçamento para o ano 2019 e de conduzir o país até novas eleições, mas, ontem, o próprio Cottarelli admitia que o melhor para o país é um governo conduzido por políticos e que nas últimas horas haviam surgido chances para o “nascimento de um governo político”. Uma fonte próxima do presidente italiano adiantava ontem à Reuters que Mattarella e Cottarelli “decidiram não apressar as coisas, em nome de um possível governo político”. Uma outra fonte, esta próxima do Movimento 5 Estrelas, indicava ontem que os dois partidos eurocéticos estavam de novo em diálogo no sentido de encontrarem um novo ministro da Economia – Paolo Savona, a escolha de M5S e Liga, foi rejeitado por Mattarella. 

Nada o garante e muito aponta até para o contrário. Matteo Salvini reconheceu ontem o diálogo para um novo governo, mas voltou a dizer que a Liga prefere novas eleições – e para breve. Os politólogos italianos concebem que a Liga se apresentará a novas eleições em nova coligação com Berlusconi e, juntos, rompam a barreira dos 40%. “Quanto mais cedo conseguirmos novas eleições, melhor, porque é a melhor forma para escapar a este pantanal e confusão”, afirmou Salvini ontem aos jornalistas.