Brasil. Greve dispersa mas continua instalado o caos

Em São Paulo, um em cada quatro postos de abastecimento estão encerrados. Nove aeroportos estão fora de funcionamento 

A greve dos camionistas brasileiros perdia ontem a força da última semana, em parte porque grande parte dos grupos abandonaram a paralisação, e também devido à participação do exército e da polícia federal, que em alguns pontos do país vão dispersando os bloqueios nas estradas. Em todo o caso, o quotidiano brasileiro está muito longe da normalidade. Em São Paulo, por exemplo, apenas um em cada quatro postos de combustíveis estão em funcionamento. Os outros não têm álcool ou combustíveis e há filas de horas para abastecer nos pontos que os têm. No total do país, segundo as contas de ontem do governo brasileiro, contavam-se 540 protestos e duas estradas cortadas. Há mais dois aeroportos brasileiros encerrados em relação ao fim de semana: são agora nove. Para tragédia no Planalto, ontem iniciava-se uma segunda greve: a dos profissionais do setor petrolífero.

O governo de Michel Temer acusa os grevistas de estarem a ser forçados por “criminosos que estão cometendo violência” – nas palavras do ministro brasileiro da Segurança Pública, Raul Jungmann. O executivo, que já deu por terminada a negociação com as empresas e sindicatos, queixa-se de que a greve se fragmentou e não tem estrutura hierárquica. O governo criou também ontem um dispositivo para receber denúncias contra as supostas organizações por detrás dos bloqueios que ontem ainda subsistiam. Os motoristas na Régis Bittencourt, troço de autoestrada nos arredores de Curitiba, contavam ontem ao “Folha de São Paulo” que apenas não dispersavam por temerem ser apedrejados pelo caminho. 

Apesar de todas as acusações do governo contra as alegadas redes grevistas criminosas, o instituto DataFolha revelou ontem que 87% dos brasileiros apoiam a greve dos camionistas, que em dez dias impediu ou atrasou a circulação de alimentos e material médico, paralisando pelo caminho uma parte importante da economia de um dos países industrializados mais dependente do transporte rodoviário de mercadorias e passageiros. Uma margem menor, 56%, defendem que a greve deve continuar apesar das cedências do governo de Michel Temer, que prometeu travar os aumentos nos preços dos combustíveis nos próximos dois meses, reduzir as portagens para os camionistas e assegurar uma tabela de rendimentos mínimos.