A vitória do fundamentalismo do género

Para quando um partido a defender a legalização da poligamia? Essa minoria terá de continuar a ser discriminada?

Sou fumador, até gostava de não o ser, pelo menos com a intensidade com que o faço, e os rótulos dos maços de cigarros incomodam-me muito, mas não é por isso que os deixo de comprar. Penso, pois faço tudo para não olhar para os maços, que tem pais, mães e crianças com abundância em situações terminais. Quando ainda ligava a isso pedia sempre aquele em que aparecia uma criança com uma chucha, mas parece que esse foi descontinuado, como se diz agora.
Sei, como todos os fumadores, que a Organização Mundial de Saúde pediu aos diferentes governos para apostarem em campanhas violentas contra o tabagismo, sendo por isso natural que, muitas vezes, as campanhas antitabaco sejam de uma violência atroz. Nunca pensei nelas como uma questão de género, pois a vida não tem de ser uma paranoia constante de equilíbrio entre homens e mulheres. Os fumadores, dizem os estudos, prejudicam quem está à sua volta, embora tenha grandes dúvidas sobre esta conclusão, pois quando vou no trânsito com o vidro aberto fico muito mais mal disposto do que quando fumo um cigarro com prazer.

Vem esta conversa toda a propósito da polémica com o último anúncio do Ministério da Saúde que teve a participação de  duas estudantes e que, salvo erro, é inspirado na história real de alguém que contribuiu para a feitura do mesmo. No anúncio conta-se a história de uma mãe que acaba por contrair cancro por ser fumadora. Depois fala-se numa conversa que a mãe teria com a filha na qual lhe dizia que as princesas não fumam. Mais coisa menos coisa é isto que mostra o tal anúncio, que foi feito praticamente a custo zero.

Foi o suficiente para as guardiãs dos costumes de género se indignarem e dizerem que o anúncio é «misógino» e que as mulheres saem mal do filme. Então agora é preciso também igualdade de género em todos os anúncios que se façam? Este disparate e fanatismo não têm fim?

O politicamente correto ainda nos vai obrigar a fazer publicidade exclusivamente com hermafroditas? Se no anúncio em questão é a história de uma mãe que é relatada que façam outro com um pai. Pode ser que as fundamentalistas das questões de género fiquem descansadas e possam dedicar parte do seu tempo a vender as suas histórias. Nos tempos que correm não falta quem as queira ouvir gritar sobre as pessoas que se sentem Manuel de manhã e Maria à noite.

Por este andar, ainda haveremos de ver bissexuais a exigirem ser tratados como tal e a recusarem ser rotulados de outra coisa qualquer. Já agora, por que razão nenhum partido se lembrou ainda de levar à Assembleia da República a legalização da poligamia, seja entre sexos diferentes ou do mesmo género?  Por que razão as pessoas que vivem com outras duas  continuam ilegalizadas, já que na declaração do IRS ninguém pode dizer que tem duas mulheres ou dois homens? Será que só podemos caminhar numa direção? Como liberal nos costumes – cada um que faça o que bem entender com a sua vida – é-me indiferente a questão do género, desde que saibamos respeitar a identidade de cada um. Mas não quero que por causa disso se transforme a sociedade num fundamentalismo tonto em que o Manuel por se sentir Maria quer impedir o Joaquim de se sentir e chamar Joaquim. Tudo tem limites e o histerismo da(o)s ativistas ultrapassa em larga escala o bom senso.