A doença infantil da liderança de Costa

António Costa despe-se agora da parafernália esquerdista que o levou ao poder interno e, depois, ao poder efetivo. Vamos ver como corre

Q uando António Costa desafiou a liderança de António José Seguro, no longínquo ano de 2014, a coisa apresentou-se como uma espécie de duelo esquerda/direita, com Costa a desfraldar a bandeira da esquerda. É do próprio António Costa a seguinte frase sobre António José Seguro que depois se tornaria quase um lema da campanha interna – «Se pensarmos como a Direita acabamos a governar como a Direita». Costa e os seus apoiantes, onde se encontrava quase toda a ala esquerda do PS (com exceções como a de Alberto Martins, que se manteve com António José Seguro) acusavam Seguro de ser mole com o Governo Passos/Portas e de apenas diferir destes na «dose» e no «ritmo» da austeridade. Nesse congresso de 2014, Manuel Alegre dava o tom da mudança ainda antes das legislativas e ainda antes da geringonça: «Com as primárias e a eleição de António Costa, começou no país uma nova era política, dentro e fora do partido, na sociedade e na vida política democrática. Este Congresso, meus caros camaradas, apesar de todos os maus presságios, é o primeiro dia de uma nova alternativa política, este Congresso é o primeiro dia da derrota da direita em Portugal».

O tom de Manuel Alegre nesse ano foi partilhado inequivocamente pela esmagadora maioria dos congressistas. Francisco Assis, que tinha apoiado António José Seguro, abandonou o Congresso mais cedo revoltado com o excesso de ‘esquerdismo’ revelado no pavilhão da FIL. 

O ímpeto esquerdista foi diminuindo à medida que Costa elaborava o cenário macroeconómico e se preparava para as legislativas – onde não conseguiu ser o partido mais votado. Mas haveria de disparar logo de seguida quando a aliança com o PCP e o Bloco de Esquerda permitiram a António Costa tornar-se primeiro-ministro. E o congresso de 2016, onde pela primeira vez PCP e BE foram aplaudidos, foi uma manif esquerdizante. 

O que este Congresso agora mostrou é que Costa, consciente que conquistou parte do eleitorado que já votou à direita, quer um PS ‘agarra todos’. Estará pronto a libertar-se da geringonça ou até a fazer acordos de geometria variável. Despe-se agora da parafernália esquerdista que o levou ao poder interno e depois ao poder efetivo. Vamos ver como corre.