O aconchego russo sai a descoberto

Moscovo manobra há muito uma linha económica para Pyongyang e quer agora capitalizar a reabertura do regime ao mundo.

Moscovo entra em jogo para capitalizar a reaproximação coreana e influenciar o jogo diplomático para o qual não foi convidada. Sergey Lavrov voltou esta semana ao titubeante aliado e vizinho oriental, onde não punha os pés desde 2009. Ao fazê-lo, melhorou significativamente a mão do jovem ditador norte-coreano, declarou-se a favor do corte imediato nas sanções económicas – que também aprovou no Conselho de Segurança das Nações Unidas – e convidou Kim Jong-un a visitar Vladimir Putin em Moscovo. Por outras palavras: a rede de segurança internacional da Coreia do Norte expande-se. «É em absoluto evidente que, no momento de começar uma negociação sobre o problema nuclear e outros problemas na Península Coreana, devemos partir da ideia de que o diálogo não será completo enquanto as sanções continuarem em vigor», afirmou Lavrov.

A mão russa é historicamente importante para o regime norte-coreano e dela pode chegar em breve grande parte do alívio económico que Kim procura e o país tanto precisa. A China, é verdade, assegura-se há muito de que o regime coreano não morre de inanição e que as sanções internacionais aprovadas na ONU não são tão violentas que o façam tombar, possivelmente provocando a deslocação de milhões de refugiados para o seu território e a movimentação de tropas norte-americanas na fronteira. Mas a Rússia, habitualmente esquecida na aritmética da sobrevivência coreana, contribui também para a economia do regime dos Kim. Os dois países partilham uma fronteira pequeníssima, no extremo noroeste da Coreia, com menos de 20 quilómetros, por onde circulam, todavia, dezenas de milhares de emigrantes coreanos. É dos salários confiscados a estes trabalhadores que Pyongyang recebe todos os anos cerca de 120 milhões de dólares, de acordo com as informações do Centro Base de Dados dos Direitos Humanos da Coreia do Norte, um grupo sediado em Seul e citado pelo New York Times. 

O Governo americano acredita que os contributos económicos da Rússia à Coreia do Norte vão além das quantias angariadas pelos seus trabalhadores no estrangeiro. É provável, segundo Washington, que embarcações coreanas utilizem portos russos para fugir às sanções e embargos.