Desculpem-nos,são surdos!

Quem tem os ouvidos fechados para tudo o que é diferente do que pensa, não aprende

Falo dos fundamentalistas, dos sectários e de todas as variantes do fanatismo. Peço compreensão para os males que causam. Não por indulgência, ou suposta superioridade dos bons sobre os maus, mas por uma questão de razão. 

O fundamentalismo pode ser religioso, científico, político, futebolístico, o que seja. O fanático está prisioneiro de uma cartilha a que todos devem obediência, e está sempre pronto a abater os ‘infiéis’, os que não seguem a sua lei. Foi assim com a Inquisição e, já no século XX, com Hitler, Estaline e Mao, para só citar os que provocaram mais mortes.

Pode acontecer com alguém que nos é próximo, um amigo ou um familiar. Que fazer, se nos sai na rifa um fanático? Por uma questão de razão, desculpo-o… só pode ser surdo! Já tive de dizer: se teimas em ignorar as minhas palavras, só pode ser porque não ouves. Se eu pensasse que desprezas o que te digo, tomaria isso como desconsideração pessoal.

Este tipo de surdez faz muito mal à saúde: provoca ignorância e estupidez! Quem tem os ouvidos fechados para tudo o que é diferente do que pensa, não aprende; quem não aprende, não sabe; e quem não sabe do que fala, só pode dizer disparates. Terá sido Abraham Lincoln que disse: «É preferível ficares calado e deixares que os outros pensem que és idiota do que falares e acabares com a dúvida!».    

Em geral, tudo começa na pureza do integrismo: a verdade está no catecismo, e tudo quanto esteja fora dele é falso! Se o fundamentalista ficasse por aí, não viria mal ao mundo, e diríamos: é lá com ele! Só que os fundamentalistas não se bastam com a pretensa superioridade da sua ortodoxia, exigem aos outros que pensem como eles, uma pulsão messiânica fá-los passar para os estádios seguintes: o desdém pelo que pensam os outros, o sectarismo e o fanatismo, onde já aflora o ódio a quem pensa diferente. 

Há dois mil anos, Jesus Cristo foi supliciado e morto por ortodoxos, que se julgavam detentores da verdade dos sacerdotes do templo. Fora do pensamento único, não viam, não ouviam, não pensavam e não admitiam nada. Uma mensagem que convidava à bondade, à tolerância e à compaixão para com os pecadores, difundida pelo filho de um modesto carpinteiro, era uma heresia. Se voltasse à terra para pregar a igualdade entre os homens, a justiça e a defesa dos mais fracos, Jesus seria, de novo, pregado na cruz.

Na sua imensa bondade, o Papa Francisco fala com a humildade de Cristo e dá exemplos de genuíno despojamento. É ouvido e compreendido pelos simples, mas é criticado por uma ortodoxia que recusa abrir mão do fausto e dos privilégios de casta. 

O Papa denuncia os que beneficiam com os lucros da guerra, e usa palavras duras para os que têm na ganância o seu ‘bezerro de ouro’ – o ídolo que Arão criou quando Moisés subiu ao Monte de Sinai. As denúncias vão diretas aos novos ‘sepulcros caiados de branco’, mas esboroam-se contra a surdez dos grandes e poderosos. O resultado está à vista: os adoradores do ‘bezerro de ouro’ não lhe perdoam, e os enredos da conspiração já estão a ser tecidos em muitos teares.