Todas as condições

Carlos Eduardo Reis, Conselheiro nacional do PSD Poucas matérias são mais relevantes para o futuro imediato do país que os fundos estruturais do quadro plurianual proposto no último mês pela Comissão Europeia. A prova disso é que partidos de passado recente eurocético, como o Bloco de Esquerda (e até algum PS, agora tão fresco…), dispensam…

Carlos Eduardo Reis, Conselheiro nacional do PSD

Poucas matérias são mais relevantes para o futuro imediato do país que os fundos estruturais do quadro plurianual proposto no último mês pela Comissão Europeia. A prova disso é que partidos de passado recente eurocético, como o Bloco de Esquerda (e até algum PS, agora tão fresco…), dispensam atenções redobradas àquele que será o orçamento comunitário para os próximos anos. Dito de outro modo: quem quer verdadeiramente potenciar políticas públicas sabe a importância de bem gerir a relação com quem verdadeiramente as paga. 

Como é também sabido, a saída do Reino Unido diminui substancialmente o potencial financeiro de toda a União Europeia e naturalmente que países de economia mais frágil – e ainda a recuperar da última crise – seriam os primeiros a sofrer o abalo. Os cortes na Política Agrícola Comum e na Coesão são para os agora 27 Estados-membros, mas não são iguais para todos esses 27. No que à política de Coesão diz respeito, concretamente, a proposta da Comissão leva 7% dos fundos portugueses face ao último quadro plurianual. É evidente que não se pode responsabilizar o atual Governo pelo Brexit – fazê-lo seria o grau zero do argumentário político -, mas não deixa de ser notável que um Governo de recente e tamanha pompa europeísta consiga resultados menos sorridentes que um Governo (PSD/CDS) em 2013, ainda limitado pela intervenção da troika. 

Eu arrisco e não generalizo. É cedo para fazer avaliações políticas de um processo por finalizar. Não é, claro, promissor que Itália, Grécia, Espanha ou França comecem a corrida à frente de Portugal – na proposta da Comissão, estes crescem em fundos enquanto Portugal cai drasticamente -, mas falta a esta proposta rumar ao Conselho Europeu, isto é, passar à negociação entre países além da discussão entre pastas. Nesse cenário, o Governo português está fortalecido por um dado não despiciendo. Os dois maiores partidos do Parlamento acordaram entre si um mandato de consenso para o atual primeiro-ministro defender em Bruxelas. Com tanto a Oposição como o Governo atrás de si, António Costa tem poucas desculpas para voltar a casa com uma derrota. Está obrigado a conseguir o melhor possível e menos 7% de fundos para a Coesão não corresponde ao melhor possível para Portugal. 

Quando temos um adversário – e acreditamos, de facto, sermos melhores do que ele – não há nada mais importante do que isso mesmo: dar-lhe espaço para ser pior do que nós. Dar-lhe todas as condições para que, no fim do dia, as razões do seu insucesso sejam da sua exclusiva responsabilidade. Se Costa negociar bem no Conselho Europeu, será uma vitória socialista, social-democrata e, sobretudo, do país. Se Costa voltar de mãos a abanar, será uma derrota sua e somente sua. Afinal, ninguém gosta de sair de um baile sozinho; especialmente quando se entrou bem acompanhado.

Quando Portugal entrar nesta reunião do Conselho Europeu, estará mais forte porque o PSD escolheu fazer política a fazer politiquice, preferiu proporcionar a hipótese de um maior sucesso nacional a tentar o oportunismo de uma derrota partidária. E aqui é preciso ser claro: ajudar o Governo português a não falhar ao futuro dos portugueses não é ignorar as falhas deste Governo. É procurar ser melhor do que ele. 

Passou, este mês, uma centena de dias da liderança de Rui Rio ao leme do PSD. Nestes, a política europeia foi direta e pragmática: sabia-se que vinha aí um novo quadro plurianual e procurou garantir-se que Portugal estava devidamente colocado para sair o melhor possível deste. Caso Costa falhe em conseguir esse desiderato junto das instâncias europeias, cabe ao PSD opor-se a quem falhou às suas responsabilidades. O sentido de dever de quem promove consensos a bem do país é o mesmo sentido de escrutínio às consequências desse consenso.

Por isto, e ao contrário do que o Partido Socialista tentou fazer passar neste seu último congresso, não são eles que caminham para 2019 como força política charneira, capaz de unir à esquerda e seduzir à direita. Ser ‘charneira’ – ou seja: ser primeiro – não é isso. Mais do que falar em interesse nacional, é responder aos interesses do país. Federar mais do que agradar. Fazer mais do que sorrir na mera gestão do quotidiano. Em quarenta anos de democracia não foi o PS esse partido federador. O PSD já foi. E pode voltar a ser.