O conflito PSD-CDS e a possibilidade do fim da coligação

Lamento o que se tem passado na coligação de Governo. Portugal não merece isso. Uma situação tão difícil como a que os portugueses têm vivido merecia que o Governo estivesse coeso na condução dos destinos do país.

não são os outros que inventam. são os próprios que o demonstram.

é bom desdramatizar: há muitas crises em muitas coligações em muitos países. no reino unido têm sido várias as matérias em que existe desacordo entre conservadores e liberais. na alemanha quantas divergências não ocorreram já entre cristãos-democratas, liberais, sociais-democratas e verdes nas várias coligações que se têm formado.

em portugal isso também sucedeu em diferentes governos deste regime: com mário soares no governo ps-cds, com francisco pinto balsemão na aliança democrática, com mário soares e mota pinto no bloco central, com durão barroso no governo psd-cds… algumas dessas divergências levaram a rupturas e até a eleições. mas não foi tão grave porque a situação não era tão complicada.

uma ressalva deve ser feita: o primeiro-ministro, pedro passos coelho, não teve nenhuma palavra nem nenhuma atitude que desse a entender qualquer tipo de mal-estar no governo. aliás, a generalidade dos ministros assim tem procedido. o mal-estar tem sido transmitido só em palavras, a gestos, silêncios de paulo portas, ou de deputados do cds.

tudo tem um tempo, principalmente quando a situação é de emergência.

pode admitir-se que existam divergências, pode até aceitar-se que haja algum eco público dessas diferenças… mas essa tem de ser uma situação excepcional e muito limitada no tempo.

entregue o orçamento, esperava-se acalmia. agora que o governo e a maioria têm de debater com a oposição, espera- se que procurem aquilo que os une.

repito: portugal está a sofrer. portugal merece todo o esforço para que os homens de estado demonstrem o seu valor. eu sei que as divergências podem ser muito sérias por respeitarem a medidas muito gravosas. mas o país exige que o governo seja o primeiro a dar o exemplo da unidade que tem pedido aos portugueses em torno dos grandes objectivos nacionais.

já existiram vários governos psd-cds. um acabou porque aconteceu camarate e o desaparecimento trágico do primeiro-ministro francisco sá carneiro; outro caiu por divergências entre os dois partidos, à época liderados por francisco balsemão e diogo freitas do amaral; outro, porque durão barroso foi para bruxelas; outro ainda porque jorge sampaio assim decidiu. fará sentido, agora que psd e cds voltaram ao governo depois de terem decidido que queriam substituir o governo de josé sócrates e anos depois de jorge sampaio ter feito o que fez, não conseguirem entender-se?

as grandes divergências, a acontecerem, devem dar-se por assuntos sérios. é verdade! mas as grandes crises exigem grandes rasgos, grandes qualidades, grandes entregas.

os açores não darão suficientemente que pensar aos dirigentes da coligação? em 2004, a 17 de outubro, carlos césar ganhou e vítor cruz perdeu. um mês e meio depois, jorge sampaio dissolvia a assembleia da república. alguém quer fazer o seu papel em 2012? cavaco silva não quererá, seguramente. querem o ps no poder? um governo de iniciativa presidencial?

utilizando um termo interessante que se usa nalgumas regiões deste país, é preciso ter tarilho.