MP aperta cerco aos três “grandes” nos casos de corrupção

O foco mediático tem estado apontado essencialmente para Benfica e Sporting, mas o i sabe que as investigações a vários casos relacionados com o FC Porto também se têm intensificado nas últimas semanas

Muita tinta tem corrido sobre os alegados casos de corrupção, consumada ou tentada, perpetrados por Benfica e Sporting junto de árbitros, elementos das estruturas diretivas dos organismos que regulam o futebol português e até sobre jogadores adversários. Do foco mediático, assente em casos como os “vouchers”, as “e-toupeiras”, o “jogo da mala” ou o “Cashball”, pouco têm feito parte alguns casos a envolver o FC Porto.

Tal não significa, porém, que os mesmos tenham caído no esquecimento das autoridades competentes. Segundo o i apurou, o Ministério Público (MP) tem vindo a intensificar as investigações referentes a vários episódios a envolver os dragões, campeões nacionais na temporada agora finda.

A investigação mais premente prende-se com o polémico jogo entre o FC Porto e o Estoril, que teve início a 15 de janeiro e o fim… a 21 do mês seguinte, depois de ter sido interrompido ao intervalo por questões de segurança, motivadas pelo risco de desabamento de uma parte da bancada norte do Estádio António Coimbra da Mota. Um encontro que ficou conhecido como Estoril Gate, por este insólito acontecimento mas também pela forma como os portistas viriam, na segunda parte, a dar a volta ao resultado – quando o jogo foi interrompido, o Estoril vencia por 1-0; no reatamento, o FC Porto passou para a frente em apenas 14 minutos, acabando por vencer por 3-1.

Entre as duas partes, registou-se a transferência de 730 mil euros dos dragões para os canários, justificados posteriormente pelos responsáveis azuis-e-brancos como sendo referentes à última tranche do pagamento de dívidas ainda referentes à transferência de Carlos Eduardo (ex-Estoril) do FC Porto para o Al Hilal, em 2015, e à contratação de Licá ao conjunto da Linha em 2013, só saldada então por falta de liquidez nos cofres do clube até aí. O FC Porto, refira-se, desmentiu desde logo o envolvimento em qualquer esquema de corrupção.

O Ministério Público começou então, ainda assim, a investigar o encontro, após uma denúncia anónima sobre alegada combinação do resultado, dando conta de uma reunião entre um executivo da Traffic, empresa que detém a maioria do capital da SAD do Estoril, o empresário Pedro Pinho e um dirigente do FC Porto na véspera da segunda parte do jogo. Uma denúncia anónima que surgiu depois de várias trocas de acusações, via redes sociais, entre o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, e César Boaventura, empresário com ligações ao Benfica.

Boaventura chegou a revelar ter sido “abordado por um administrador da SAD do FC Porto para mentir relativamente a jogos viciados ou comprados”, mostrando-se “disponível para ser chamado pela Polícia Judiciária”. Curiosamente, este mesmo agente acabou mais tarde por ser acusado de ter aliciado jogadores do Marítimo para facilitarem frente ao Benfica antes de um encontro entre madeirenses e águias na época 2016/17.

Além do “Estoril Gate”, o MP está também a investigar supostas relações pouco claras entre FC Porto e Rio Ave, nomeadamente favores de que terá beneficiado a empresa do presidente dos vila-condenses, António Silva Campos, após intercedência de Pinto da Costa junto da Câmara Municipal do FC Porto para adjudicação da construção do novo complexo de piscinas da Campanhã. Mas também as exibições de alguns jogadores em jogos contra os dragões, como Abner e Pedro Monteiro (Estoril), Sulley (Tondela) ou Vágner (Boavista).