Metade dos casos de demência estão por diagnosticar e vai piorar

Alerta surge em relatório da OCDE, que dá conta dos passos que estão a ser dados em alguns países. Na Noruega, há “equipas da memória” que vão visitar as famílias e alguns países dão treino a polícias 

O número de casos de demência nos países da OCDE vai duplicar até 2050, a menos que se encontre uma cura – o que por agora não se perspetiva. O envelhecimento da população é o principal motivo e o alerta surge num relatório publicado ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que aponta para uma subida dos atuais 19 milhões de casos para 40,9 milhões no espaço de três décadas. O que pode ser feito? Prevenir mais, já que alguns fatores de risco como fumar, diabetes e obesidade são comuns a várias doenças crónicas e também a distúrbios cognitivos como Alzheimer. Mas também garantir mais apoio antes, durante e após o diagnóstico. Neste momento, os familiares dos doentes, cuidadores informais, absorvem a maioria do impacto.

O relatório faz um balanço dos passos que estão a ser dados em alguns países para garantir melhor qualidade de vida a pessoas com demências, doenças cujo o risco aumenta com a idade. Estima-se por exemplo que afetem 20% das pessoas entre os 85 e 89 anos mas, a partir dos 90, a incidência é muito maior: 41% dos idosos nesta faixa etária serão afetados por algum tipo de demência.

Portugal, apesar de ser um dos países mais envelhecidos da Europa – será o 4º mais envelhecido do mundo em 2050 se nada se alterar – nunca é referido como tendo em curso alguma boa prática. Aliás, num dos quadros do relatório pode constatar-se que o país não tem orientações clínicas para a gestão da demência. No site da Direção-Geral da Saúde, porém, existe uma referência a normas aprovadas em 2015 para guiar a abordagem terapêutica a alterações cognitivas, que identifica por exemplo os critérios para diagnóstico das demências.

A ideia de que os dados sobre a incidência ainda são escassos e que mais de metade dos casos estarão por diagnosticar a nível global é uma das conclusões do relatório. Há meses, numa primeira tentativa de levantamento no OCDE, apontava-se para 205 mil pessoas com demência em Portugal, o quarto pior registo da OCDE em termos de incidência. Apenas cinco países da OCDE têm registos nacionais mais consolidados de doentes com demência. Na Dinamarca, um dos países mais avançados, calcula-se ainda assim que apenas 43,6% dos casos a nível nacional estejam diagnosticados e registados na base de dados.

Entre os países que têm dado mais passos, a OCDE destaca algumas tendências. É o caso de “clínicas de memória”, que oferecem serviços clínicos especializados. O conceito ainda não é muito comum em Portugal mas há uma clínica destas no Porto. Na Suíça há mesmo uma associação de clínicas deste género. 

Outra a aposta em termos de apoio na comunidade são “equipas de memória”, que vão a casa das famílias. Na Noruega, estão presentes em 75% dos municípios e dão apoio desde o pré-diagnóstico ao follow-up. Outra vertente passa pela formação de médicos de família mas também de farmacêuticos e polícias. Na Áustria, em 2013 já tinham sido certificadas 25 esquadras e 2000 polícias receberam formação nesta área, revela o relatório. Do Japão, país mais envelhecido do mundo, chega outro exemplo de como fazer a diferença: o estigma ainda adia muitas vezes o diagnóstico por isso, em 2004, alteraram o nome destas doenças de demência (Chiho) para alterações cognitivas (Ninchi-sho), o que levou mais pessoas a procurar ajuda.