‘Poderão ser as máquinas a programar a codificação’

Para João Castro Guimarães, Portugal tem grandes oportunidades com a digitalização da economia. Mas há muito ainda por fazer e tem de ser bem.

‘Poderão ser as máquinas a programar a codificação’

Como olha para a digitalização da economia portuguesa?

Estamos muito associados ao ensino clássico, que é indispensável e vital. Mas esta inovação que as startups e esse género de empresas tem vindo a desenvolver não é despicienda. Estamos bastante atrasados no desenvolvimento, mas temos uma grande oportunidade se o fizermos bem. 

Estamos atrasados em relação a outros países ou na tecnologia?

Em relação a outros países. Não é um problema de tecnologia. Temos grandes engenheiros. Mão de obra mais barata que noutros países. Temos todas as condições. E a digitalização poderá ser um ‘driver’ muito forte do crescimento da economia portuguesa. Mas, na realidade, com exceção de alguns setores – e estou a falar do retalho – o ‘e-commerce’ não se tem desenvolvido. E o dinamizador de tudo isto tem de ser a venda. No caso do retalho, Portugal é muito pouco desenvolvido quando comparado com todo o trabalho que a Amazon tem feito, ou o Alibaba Group. Falta esse catalisador.  Mas isto também está muito associado ao consumidor ser mais exigente, querer conhecer os seus produtos. Temos de facto algumas elites, startups de nível mundial. Mas Portugal tem assimetrias internas e é mais fácil ir buscar financiamento a outros países.

Porquê? Falta cultura de risco?

Há um grande esforço deste mundo das startups para ir buscar capital de risco, e ele existe. Mas depois empanca nas questões administrativas e burocráticas que o nosso país é um bocadinho especialista em criar e em fazer. Mas há um enorme esforço da COTEC ser a instituição da indústria 4.0 Foi uma boa decisão do Governo porque encontrou ali uma entidade privada para gerir políticas públicas de ajudas. Isto vai vencer muitas barreiras que o nosso setor público tem. Há questões locais, conjunturais e estruturais, de regulamentação, que afetam a nossa digitalização e ida para o digital. Mas temos setores de ponta de engenharia, de algumas startups, que têm feito trabalhos notáveis. Somos o quarto país nos 112 países da comunidade GS1 –, mas temos a CPLP, tal como a Commonwealth, por isso quase todos os países do mundo fazem parte da comunidade GS1 – a ser certificado em qualidade de dados, que é muito importante na digitalização e na criação do gémeo digital, que tem de ter dados e imagem de qualidade. E os dados que circulam na Internet não têm qualidade. E nós temos esse papel, e estamos a fazê-lo. E focamos a nossa ação nas PME, na importância de serem colocadas online, na visibilidade da sua atividade e dos seus produtos. É essa uma das razões por que não cresce o ‘e-commerce’ e o que é preciso para que isso aconteça é digitalizar, digitalizar bem e com qualidade.

Que papel terá a Inteligência Artificial (IA) nesta dinâmica?

Poderão ser as próprias máquinas a programar a codificação. A IA vai aparecer, será muito importante, o ‘blockchain’ é algo que nos interessa acompanhar dentro dos critérios de rastreabilidade dos produtos. Estamos com expectativa e abertos a todas essas mudanças, não somos a entidade que vai fazê-las aparecer. Queremos aproveitá-las. 

Como vê o futuro da economia tendo em conta a digitalização, a economia circular?

Dentro das tendências macroeconómicas, a melhor utilização dos recursos naturais é vital. Depois há tendências difíceis. Megacidades não ajuda. Tem de haver respostas através da digitalização, com base na IA, nas ‘smart cities’. Encontrar formulas e regulamentos que ajudem e não sejam barreiras. Na evolução da economia mundial, organizações como a GS1 vão ser cada vez mais relevantes, porque a nossa essência é promover eficiência, transparência e segurança.