Brexit. Bancada conservadora pode fazer cair governo de May

A primeira-ministra britânica, Theresa May, garantiu aos deputados que iria negociar com eles, mas depois voltou com a palavra atrás

A primeira-ministra britânica, Theresa May, conseguiu evitar uma pesada derrota na Câmara dos Comuns à última hora ao fazer concessões aos deputados rebeldes da sua bancada, mas a ameaça para o seu governo e negociações com Bruxelas não foi debelada. Agora, o deputado conservador Dominic Grieve alerta estar preparado para fazer “cair o governo” de May se tal for necessário para bloquear os danos “catastróficos” de um Brexit mal conduzido. 

Conhecido pela sua oposição ao Brexit ainda antes do referendo de 2016, Grieve garantiu, em declarações à BBC, que o grupo de deputados conservadores rebeldes, que lidera, está “determinado a fazer com que a promessa do voto significativo que nos foi dada seja cumprida”. Questionado sobre se estaria disposto a derrotar o governo se a promessa não fosse cumprida, o deputado conservador deixou um forte aviso: “Iremos fazer o governo cair”, acrescentando que acordou às duas horas da manhã com “suores frios” ao pensar nos problemas que carrega aos ombros”.

Confrontada com uma rebelião na sua própria bancada parlamentar por os deputados quererem ter uma maior palavra sobre o resultado final das negociações, May prometeu-lhes que iria abrir negociações com os deputados se a rebelião não avançasse, mas depois voltou atrás com a palavra dada, enfurecendo-os. “Grande erro da primeira-ministra”, garantiu a deputada conservadora pró-europeia Anna Soubry. 

A quebra de confiança não se limitou à primeira-ministra, com Robert Buckland, procurador-geral que em pleno plenário fez a promessa aos deputados rebeldes, a ter de vir a público dizer que não mentiu e que a decisão final coube inteiramente à líder do executivo britânico. “Lamento que [os deputados] tenham ficado desiludidos com os termos finais, lamento mesmo”, confessou Buckland à Sky News.

A proposta de lei será votada esta segunda-feira pela Câmara dos Lordes, esperando-se que seja rejeitada e que os lordes incluam uma emenda mais próxima da defendida por Grieves, que dê mais poderes ao parlamento na condução das negociações, mas também sobre o resultado final das negociações com a União Europeia. 

Se assim for, então entrar-se-á no processo parlamentar apelidado de “pingue-pongue”, por antes de um projeto-lei se tornar lei o seu texto final ter de ser aprovado pelas duas câmaras parlamentares. Qualquer alteração à lei numa câmara tem de ser obrigatoriamente votada pela outra. Espera-se ainda que o projeto-lei volte este quarta-feira à Câmara dos Comuns para uma nova votação. O resultado da votação dependerá, mais uma vez, do sentido de voto dos parlamentares rebeldes. 

“Não posso salvar o governo de ficar numa situação em que o parlamento possa discordar”, afirmou Grieve. 

A saída do Reino Unido da União Europeia está agendada para 29 de março, mas Londres e Bruxelas têm de chegar a acordo até janeiro de 2019, com a primeira-ministra a ter de agradar a quem quer uma saída limpa e a quem quer manter laços com o projeto europeu.