Portugal pequenino…

É mais fácil canalizar dinheiros públicos para a construção de uma mesquita do que para criar um museu dos Descobrimentos 

Bem se esforçou Marcelo Rebelo de Sousa ao proclamar em Boston, durante as celebrações do 10 de Junho, junto da comunidade emigrante, que «os EUA são um grande país mas Portugal ainda é maior», justificando o orgulho pátrio com os feitos que ainda hoje despontam nas artes, na ciência, no trabalho e, até, no futebol. 

Em contraponto a esta euforia, logo apareceu a bloquista Catarina Martins a aliviar-se na rede Tweeter, à moda de Trump, a pregar que virá o dia em que teremos de reconhecer «a enorme violência da expansão portuguesa», bem como a «história esclavagista, a responsabilidade no tráfico transatlântico de escravos».

É o discurso em tom menor da esquerda radical, a querer apoucar a Diáspora, sem nunca ter sentido remorsos ou qualquer embaraço pelos ‘gulags’ praticados em nome das suas referências ideológicas, ao longo da história, passada e presente, dos totalitarismos comunistas.

É o Portugal pequenino que se manifesta, também, a pretexto de um Museu das Descobertas em Lisboa, um projeto de Fernando Medina com antecedentes que remontam a 2009, quando o então ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, teve a mesma ideia, que já nessa altura gerou reboliço, agora mais assanhado. 

A esquerda ‘bem pensante’ não gostou e saiu em cruzada contra o projeto, incluindo académicos portugueses e de alhures, desejosos de reconduzir-nos à irrelevância do costume. 

Afinal, interrogam-se, angustiados, os ‘historiadores e cientistas sociais’ que subscrevem um abaixo-assinado, «ter-se-ão os povos africanos, asiáticos e americanos, de histórias milenares, sentido ‘descobertos’ pelos portugueses?».

O mais prático, no fundo, é chegarmos à conclusão de que não descobrimos nada e que andámos, errantes, por esse mundo fora, a semear violência e a promover o tráfico de escravos, como tweeta judiciosamente Catarina. 

Com ironia, escreve no Público Fernando D’ Oliveira Neves, um diplomata retirado, que «o melhor é chamar ao Museu das Descobertas o Museu da Descoberta de Portugal. Porque só percebe Portugal quem conheça essa nossa História». Coisa que obviamente acontece pouco.

Parece, de facto, infinitamente mais fácil canalizar dinheiros públicos para a construção de uma nova mesquita no Martim Moniz do que criar um museu para celebração dos Descobrimentos Portugueses, que já tiveram uma Comissão Nacional instalada na Casa dos Bicos, presidida pelo polémico Vasco Graça Moura, prematuramente desaparecido, cuja voz faz falta para pôr ordem em tanto disparate sem freio.

O processo de negação e de infantilização em curso no país soma e segue, com desenvolvimentos surpreendentes. 
É todo um Portugal pequenino que se observa, também, nos alinhamentos dos telejornais, sem exceção, pelos quais se percebe que tem muito mais importância a chamada crise de um clube de futebol lisboeta do que a iniciativa de Rui Rio, preocupado com a «hemorragia demográfica», ao propor um plano estruturado para fomentar a natalidade.

Minucioso nos incentivos, embora vago no modelo de financiamento, Rio mostrou finalmente para que serve o Conselho Estratégico do partido. Pelo menos, já serviu para António Costa o saudar «por desistir da política de casos» e se dedicar a casos concretos. 

Compreende-se. Se o PSD deixar o PS em sossego sobre ‘casos’ como os de José Sócrates, Manuel Pinho ou Armando Vara – para ficarmos apenas pelos mais visíveis –, ou esquecer a lista dos grandes devedores que arruinaram a Caixa, o Governo poderá concentrar-se nos preparativos para ganhar a maioria em próximas eleições, sem se incomodar com os sarilhos que ‘envergonharam’ alguns dos seus membros. 

E se os enredos do futebol não chegarem para entreter as conversas de café, sobram outros recursos criativos, desde as ‘vacas que voam’ ao robô LOLA, apresentado como «uma assistente pessoal para as Lojas do Cidadão», o último fétiche de Costa… 

Pelo meio destas brincadeiras, o PCP também decidiu ajudar à festa e diverte-se à sua maneira, patrocinando a organização de protestos, com relevo para os professores, pastoreados por quem não é docente há quase 30 anos e se transformou, como alguém escreveu, num dos «inimputáveis do regime». 

Quando os professores se preocupam mais com as progressões automáticas na carreira do que com o ensino, não admira que 45% dos alunos que fizeram provas de aferição de História e Geografia do 2.º ciclo não sejam capazes de situar Portugal no mapa da Europa. Ou manifestem dificuldades alarmantes em Matemática ou Português, indiciando uma pobreza de raciocínio franciscana.

O que vale é que neste Portugal pequenino e dos pequeninos ninguém leva a mal… Com bolinha vermelha nos tweets de Catarina, em vez da tourada na TV…