Iñaki Urdangarin. Duques e cenas tristes

O cunhado do rei de Espanha viu esta semana o Supremo Tribunal condená-lo a cinco anos e dez meses de prisão. O escândalo que abalou a monarquia e levou à abdicação de Juan Carlos voltou em força às páginas dos jornais com o antigo andebolista basco casado com a infanta Cristina no centro.

Iñaki Urdangarin. Duques e cenas tristes

Na quarta-feira Iñaki Urdangarin foi informado de que tinha cinco dias para ingressar numa prisão espanhola à escolha para cumprir a sua pena de prisão. Não por ser o cunhado do rei Felipe VI, casado com a sua irmã mais nova, a infanta Cristina, mas pela prerrogativa da legislação para os condenados que aguardam a confirmação da sua sentença em liberdade. E a confirmação chegou esta semana. Apesar de lhe reduzir a pena em cinco meses (deixou cair a acusação de falsificação de documentos), o Supremo Tribunal manteve, mesmo assim, uma condenação de cinco anos e dez meses de prisão por desvio de fundos, prevaricação, fraude contra o erário público, delitos fiscais e tráfico de influências pelo seu envolvimento no caso Nóos. Na quarta-feira, o tribunal de Palma de Maiorca entregou pessoalmente ao antigo andebolista do Barcelona e da seleção espanhola a notificação de que se tem de dirigir a uma prisão à sua escolha para começar a cumprir a pena. Não chegou ainda ao fim o escândalo que abalou a monarquia espanhola, ao ponto de levar à abdicação do rei Juan Carlos a favor do seu filho, porque Urdangarin ainda pode recorrer ao Tribunal Constitucional ou solicitar o perdão a Felipe VI. De qualquer maneira, isso já não o livrará de cruzar os portões da prisão. Se sairá antes do fim da pena, é questão de aguardar para ver. O Palácio da Zarzuela já veio reafirmar “o respeito absoluto pelo poder judicial”.

Para o filho de um engenheiro químico muito próximo da direção do Partido Nacionalista Basco e de uma aristocrata belga, nascido em Zumárraga há 50 anos, que chegou ao mais alto da carreira de andebolista (ganhou duas medalhas olímpicas de bronze com a seleção espanhola, conquistou seis taças dos campeões europeus e dez títulos de campeão nacional com o Barcelona) e da sociedade espanhola, ao entrar na família real em 1997 por via do casamento com a infanta Cristina, o sopé da montanha que desceu em queda livre está a chegar.

Nos últimos tempos, Iñaki e a infanta instalaram-se em Genebra, na Suíça, onde os quatro filhos estudam e Cristina trabalha para a Fundação Aga Khan, uma forma de fugir aos holofotes da imprensa e tentar viver uma vida normal, mesmo com a espada de uma condenação sempre a pairar sobre a cabeça do ex-andebolista. A infanta deverá permanecer em Genebra, mesmo com o marido preso em Espanha, disse na quinta-feira o advogado de Urdangarin, Mario Pascual Vives. A hipótese de a irmã do rei de Espanha se mudar para Portugal, para trabalhar aqui na Fundação Aga Khan chegou a estar em cima da mesa.

O escândalo em torno do Instituto Nóos, uma organização que deveria ser sem fins lucrativos, onde Urdangarin e o seu sócio Diego Torres usavam de tráfico de influências para conseguir acordos de governos de comunidades autónomas e recebiam dinheiro por contratos que nunca se concretizavam ou cujo orçamento era consideravelmente empolado, deixou uma nódoa que a família real espanhola tenta limpar há quase sete anos – a infanta Cristina chegou a ser interrogada pela polícia para aferir da sua participação no esquema de corrupção, mas acabou por não ser acusada.
Primeiro, em dezembro de 2011, excluindo Iñaki de todos os atos oficiais da família real, por considerar que o seu comportamento não era «exemplar». No princípio de 2013, apagou a página oficial do duque de Palma do site da família real, deixando-lhe apenas o nome e as fotografias como marido da infanta Cristina. Para a monarquia, Iñaki Urdangarin transformou-se na ovelha tresmalhada que gostavam muito de apagar da história. Mas, a verdade é que o basco até parecia caído do céu quando, em 1997, se casou com a infanta Cristina de Borbón. Tinha pergaminhos e currículo: um dos sete filhos de Juan Maria Urdangarin Berriochoa, militante histórico do PNV e antigo presidente da Caja de Ahorros de Vitoria y Álava e da aristocrata belga Claire Liebaert Courtain, habituado à missa dominical, aos cavalos, à alta sociedade de Vitória, a uma casa poliglota, onde se falava espanhol, basco, catalão, francês e inglês, com uma carreira brilhante e irrepreensível no andebol espanhol (foi numa das presenças olímpicas com a seleção que conheceu a infanta) e formação em Ciências Empresariais, Administração e Direção de Empresas, bem como um MBA. Nem sequer o facto de ter evitado o serviço militar obrigatório em Ceuta, alegando uma «surdez total» de que realmente não padece (e o exército chegou a confirmar), estragava o quadro geral de bom partido. Juan Carlos deu a bênção ao casal e concedeu-lhes o título de duques de Palma.

Agora que está prestes a ser preso, que a Câmara de Palma de Maiorca retirou o nome dos Duques de Palma à rambla que havia batizado em sua honra em 1998 e que lhe pediram para não usar oficialmente o título, para não parecer mal; agora que irá ver a sua mulher de vez em quando e os seus filhos mais espaçado ainda, resta a Iñaki Urdangarin a última decisão pessoal dos próximos cinco anos e dez meses, a de escolher o estabelecimento prisional onde irá cumprir pena. Isto se os serviços prisionais não acharem que a escolha é descabida e o transferirem para uma prisão pequena perto de Madrid, que é o que preferem.