«Pensa Positivamente

Esta ordem-conselho lança um desafio muito interessante: «Pensa Positivamente». E, ao aconselhar-nos a ter um pensamento positivo, lança-nos o desafio de encararmos a vida de forma positiva, aceitando e encarando de frente o que nos acontece.

Realmente, pensar de forma positiva sobre a vida e formular pensamentos positivos quando refletimos sobre ela, sobre o que desejamos e o que fazemos, é já «meio caminho andado» para enfrentarmos, sem dramas nem grande temor, o que a vida nos reserva.

Há pessoas que são muito negativas. Passam a vida a dizer mal de tudo, a queixar-se por qualquer motivo, a resmungar constantemente, a impedir, no fundo, a vida de fluir. Pessoas sobre as quais Alexei Bueno diz que seria melhor se «vissem, ao vê-la, cada coisa / E não seu nome, se afinal pudessem / Fugir da forma abstrata onde destecem / A vida».

Ter este tipo de estrutura mental, esta forma de abordagem, este estado de espírito é um impedimento para que nos aconteçam surpresas agradáveis e acontecimentos positivos. A negatividade mina tudo – desde os outros ao próprio. A negatividade consome as entranhas e desgasta, como se fosse uma espécie de ferrugem que nos vai corroendo por dentro, lentamente, até quebrar os «canais imaginários» que transportam o ânimo e conduzem os sentimentos positivos, transformando-nos em pessoas amarguradas e tristes, incapazes de ver o lado bom da vida, de ver as coisas essenciais, «como o sol / como a noite // como a vontade de comer / e o sono // como as preocupações e o amor», nas palavras de António Reis.

Ser incapaz de ver as pequenas grandes coisas da vida é uma forma de não viver, uma forma de passar anestesiado pela vida. Porque são efetivamente estas pequenas coisas que verdadeiramente importam e que dão significado à vida, que dão conteúdo significativo e vivido. Como diz Miguel Torga: «A vida é feita de pequenos nadas, / De grandes searas paradas / À espera de movimento; / (…) / De ver esta maravilha: / Meu pai a erguer uma videira / Como uma mãe que faz a trança à filha».

Sem estas pequenas coisas, que vamos sentindo no dia a dia, as chamadas grandes coisas de nada valeriam. Ora, só se pensarmos positivamente poderemos estar despertos para a realidade, e só assim poderemos ter a coragem suficiente para enfrentar, de peito aberto e com coragem, as dificuldades que a vida nos reserva. Só com esta coragem e persistência (com resiliência) poderemos afirmar, como Maya Angelou, no seu conhecido poema: «Podem disparar contra mim as vossas palavras, / Podem ferir-me com os vossos olhos, / Podem matar-me com o vosso ódio, / Mas, ainda assim, como o ar, erguer-me-ei».

Como o ar, leve e fresco, poderemos ir-nos levantando, de cada vez que tentarem derrubar-nos, se encararmos de forma positiva as adversidades, se nos encararmos a nós próprios de forma positiva, confiando nas nossas capacidades. No fundo, adotando uma atitude semelhante à da escritora libanesa Joumana Haddad: «Quanto às minhas derrotas e todos os erros que cometi até agora, não quero realmente considerá-los como tal: são lições preciosas que me tornaram uma pessoa melhor e, como tal, são também vitórias, orgulho-me delas». É urgente fazê-lo. É urgente acreditar. Em nós, no mundo, nos outros. É urgente inventar o amor…

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services