Bourdain: o exemplo do Príncipe Rebelde da culinária!

O ‘suicídio’ é um assassino silencioso e imprevisível.

«Batem as portas em tons de suicídio como se fossem um corpo a cair do nono andar».

A frase é do livro Tudo o Que Temos Cá Dentro, do nosso psiquiatra Daniel Sampaio.

E, desta vez, a porta da vida fechou-se para Anthony Bourdain – que foi vítima, no passado dia 8 de Junho, desse assassino silencioso através da mão da grande epidemia dos tempos modernos: a epidemia da mente.

A vida – mas também a morte – de Bourdain deixa-nos várias lições.

Comecemos pela vida.

Cresceu no seio de uma família abastada, mas trocou a previsibilidade dos estudos universitários pela sua paixão pela cozinha, começando na base daquilo que seria um longo e difícil caminho, até se tornar um dos mais bem sucedidos chefs da cozinha mundial.

Quebrou as aparências e denunciou o lado infernal, nu e cru, da sua profissão, aparentemente glamorosa, no que diz respeito aos restaurantes de luxo.

Ensinou-nos que somos o que comemos, mas também que «a vida sem caldo de vitela, gordura de porco, salsichas ou um bom queijo mal cheiroso, é uma vida que não vale a pena viver».

Deu-nos a conhecer o mundo e as diferentes culturas, através da gastronomia, pincelada com o seu espírito de aventura e a curiosidade de quem ama o desconhecido, incluindo os seus sabores.

Eternizou-se como ‘estrela rock’ da culinária mundial com o seu livro Kitchen Confidential, que foi a semente que o fez viajar das palavras escritas para o ecrã das nossas televisões, tornando o seu programa de culinária único no seio de todos os programas do género.

Demonstrou que a melhor comida nem sempre é a dos melhores restaurantes.

Vencedor de dois Emmy's, chocou o mundo com o seu suicídio, demonstrando como a vida é frágil e as aparências são ilusórias.

O ‘suicídio’ é um assassino silencioso e imprevisível.

Utiliza muitas vezes, como arma de ignição, problemas do foro afectivo, económico, social ou de saúde, sendo que em 70% dos casos resulta de situações de depressão profunda.

Nomes como Bourdain, Robin Williams, Virginia Woolf, Tchaikovsky, David, Maria, Teresa contam-nos como a doença mental mata silenciosamente.

Deveríamos fazer da prevenção em Saúde Mental um verdadeiro investimento de vida, para que as vidas que nos enriquecem todos os dias não partam antes da hora…