Sporting. Ricciardi é o preferido

O banqueiro pode assumir o papel de aglutinador da oposição a Bruno de Carvalho e reúne consenso para avançar para eleições caso o presidente leonino caia na Assembleia-Geral destitutiva de hoje. Bruno, porém, não desiste: vai impugnar a votação e a própria AG, que considera ilegal

Tem hoje lugar, no Altice Arena, em Lisboa, aquela que se prevê vir a ser a assembleia-geral (AG) mais concorrida – e mais polémica – da história do Sporting. «Esperamos que o número de sócios seja superior a 50 mil», afirmou na última quinta-feira Jaime Marta Soares, presidente da mesa da assembleia-geral (MAG).

Esta será, também, a primeira AG de destituição nos quase 112 anos de história do clube leonino: em causa estará a continuidade do conselho diretivo liderado por Bruno de Carvalho, suspenso de funções mas que na prática continua a desempenhá-las como se nada de errado estivesse a acontecer – assim o comprovam a oficialização do sucessor de Jorge Jesus no banco, Sinisa Mihajlovic, bem como os reforços já assegurados (Marcelo, Raphinha, Bruno Gaspar e Viviano) – e a ignorar todas as ordens, quer da MAG, quer dos próprios tribunais, dizendo não reconhecer legitimidade as comissões nomeadas por Marta Soares para substituir os órgãos que entretanto perderam o quorum (além da MAG, também o conselho fiscal e disciplinar). «A única questão que vai ser perguntada aos sócios é esta: ‘Pretendem ou não a revogação coletiva, com justa causa, do mandato dos membros do conselho diretivo?’», clarificou Marta Soares a dois dias do evento.

Em falência técnica

O estado financeiro da SAD do Sporting é, neste momento, a grande preocupação do universo sportinguista. Fonte próxima do processo revelou ao SOL que aquele órgão está tecnicamente falido e que a situação piorou sobremaneira com as rescisões uniltareis dos principais ativos do clube (Rui Patrício, William Carvalho, Battaglia, Gelson Martins, Bruno Fernandes ou Bas Dost). Além dos casos de corrupção que têm manchado o nome do clube nos últimos tempos, como o ‘Cashball’, que continua sob a investigação da Polícia Judiciária.

Tendo em vista o que consideram ser uma destituição inevitável de Bruno de Carvalho, algumas personalidades reputadas do universo sportinguista começam já a apalpar terreno no sentido de preparar uma candidatura à presidência leonina. Frederico Varandas Fernandes, ex-diretor clínico do clube – também ele alvo de críticas de Bruno de Carvalho na última quinta-feira -, vai seguramente avançar. Outros nomes deram já o passo do anúncio de uma candidatura, como Dionísio Castro, antigo atleta olímpico dos leões, ou Bruno Conceição, mestre em direito desportivo e sobrinho-neto de José Travassos, uma velha glória do futebol leonino.

Sabe o SOL, no entanto, que o nome de José Maria Ricciardi tem ganho cada vez mais peso por entre a oposição a Bruno de Carvalho. Na passada quarta-feira, na TVI, o ex-banqueiro não excluiu a possibilidade de se candidatar à presidência do clube, recusando apenas assumir abertamente uma candidatura antes da destituição do presidente suspenso. Estará, todavia, aberto a fazê-lo caso a direção liderada por Bruno de Carvalho caia este sábado.

Segundo fontes do clube, Ricciardi é visto como tendo um perfil que, neste momento, mais condições apresenta para unir a família leonina do que o mediático advogado Rogério Alves. Além disso, a proximidade de Ricciardi a setores da banca é considerada importante numa altura em que o Sporting vive uma asfixia financeira.

E há outra questão importante: Ricciardi tem uma vida profissional estabilizada e não depende dos honorários auferidos no clube para subsistir – ao contrário do que a oposição considera ser o caso de Bruno de Carvalho.

Este sábado se verá se Bruno de Carvalho e os restantes membros do conselho diretivo e da comissão transitória por si nomeada irão marcar presença na AG que pode ditar o fim abrupto do seu segundo mandato, iniciado em março do ano passado. «Estamos num país democrático onde o Direito impera. Todos nós estamos sujeitos às leis da República. Espero que seja esse o entendimento do senhor presidente Bruno de Carvalho: cumprir os estatutos. Se os sócios decidirem pela sua destituição, nem me passa pela cabeça que ele não aceite a vontade dos sócios», declarava Marta Soares na quinta-feira.

‘Jogadores? A vítima sou eu!’

Na quinta-feira, num debate na Sporting TV que acabou por não o ser, dada a ausência de qualquer membro da comissão de gestão nomeada por Jaime Marta Soares, Bruno de Carvalho desafiou este a desfazer as comissões provisórias que criou – e prometeu fazer o mesmo com a sua -, garantindo não comparecer à AG de hoje caso tal não aconteça. Seja como for, caso o desfecho do evento seja contrário às suas pretensões,  e de acordo com o que o SOL conseguiu apurar, o presidente leonino não irá aceitar uma eventual derrota – e consequente destituição – de ânimo leve. Aliás, não a irá aceitar de todo (se não for por uma margem absolutamente inequívoca): se esse cenário se vier a verificar, Bruno de Carvalho irá impugnar as votações e a própria AG, que sempre defendeu ser «ilegal», uma «golpada» e uma «bomba atómica» destinada exclusivamente a tirá-lo da presidência do clube à força.

E será mesmo essa a única forma de Bruno de Carvalho sair do cargo – nesta quinta-feira, o presidente prometeu acatar as decisões saídas da AG e até não se recandidatar «se tudo for fidedigno na votação», algo em que não acredita logo à partida.

O presidente do Sporting, de resto, continua a considerar que o grande alvo do ataque na Academia… foi ele próprio e não os jogadores e os técnicos agredidos. «As pessoas ainda não se aperceberam que aquele ato criminoso foi contra mim? Primeiro contra o Sporting, mas já viram que o crime foi contra mim enquanto representante máximo do Sporting e da SAD? Isto está tudo subvertido. As pessoas afetadas foram os jogadores, mas o crime foi contra o Sporting», atirou, explicando ainda que não se demitiu do cargo porque, se o fizesse, estaria a dar razão aos jogadores que alegaram justa causa para rescindir com o clube. «Não me parece que isso seja a defesa dos interesses do Sporting», sentenciou.

Já na manhã de sexta-feira, numa extensa publicação no Facebook, garantiu que irá «resolver todos os casos das nove rescisões de jogadores e que o empréstimo obrigacionista avançará, assim como a assinatura da nova renegociação da reestruturação financeira» e prometeu a «maioria da SAD do Sporting CP aos Sportinguistas em 2019». No mesmo ‘post’, voltou a apontar o dedo à Holdimo, segunda maior acionista da SAD leonina, e a José Maria Ricciardi, a quem acusa de «estar a preparar a venda ao desbarato à Holdimo e fazendo o clube perder a maioria da SAD».