Portugal-Irão: o verão indiano do capitão Eusébio

No dia 14 de junho de 1972, Portugal jogou com o Irão pela primeira vez. Para a Minicopa do Brasil, vencendo facilmente por 3-0. 

MOSCOVO – Cento e cinquenta anos se comemoravam sobre a data da independência do Brasil e o fim da colonização portuguesa, no Verão de 1972. O imperador D. Pedro, primeiro do Brasil e quarto de Portugal, largara já o seu grito nas margens plácidas do Ipiranga há tempo suficiente para que todas as desavenças fossem esquecidas. Eram dias de festa que não dispensavam a presença portuguesa e, por todo o lado onde se deslocou, a seleção das quinas foi recebida com a simpatia e a ternura que se dispensam a um parente próximo, apesar de alguma frieza sentida no Natal e no Recife, as primeiras cidades onde jogámos. «Portugal, meu avozinho, estamos com você», leu-se numa faixa desdobrada no estádio de Belo Horizonte. 

A Confederação Brasileira de Desportos não deixara a coisa por menos: os 150 anos da Independência seriam motivo para a disputa de uma competição que pouco ficava a dever a um verdadeiro Campeonato do Mundo. Vinte seleções nacionais e continentais disputariam, em 12 estádios, aquela que ficou conhecida como Minicopa. Quinze equipas – Argentina, Seleção de África, França, Seleção da América Central, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Irlanda, Venezuela, Chile, Irão, Equador, Jugoslávia e Portugal – seriam distribuídas por três grupos; outras cinco – Brasil, Uruguai, URSS, Checoslováquia e Escócia – ficariam isentas da primeira fase. Em seguida, formavam-se dois grupos de quatro equipas que decidiam o acesso à final em sistema de poule.

Portugal começou por ficar no Grupo II, juntamente com Equador, Irão, Irlanda e Chile. Perante a lista das seleções convidadas, na qual faltavam os nomes ilustres da Itália, da Alemanha e da Inglaterra, houve quem acusasse a CBD de fabricar um torneio à medida da vitória brasileira. O troféu para o vencedor era majestoso: pesava 11 quilos em ouro e pedras preciosas (diamantes, pérolas, esmeraldas e rubis), com 45 centímetros de altura e desenhos recortados a esmalte azul. 

José Augusto, o selecionador nacional, levou para o Brasil o grupo de jogadores que fazia parte do seu plano para o duro combate do apuramento para o Mundial de 1974. Jaime Graça e Eusébio eram os únicos sobreviventes da saga dos Magriços (Simões, lesionado, ficara em Lisboa), e a juventude de Jordão (19 anos), Nené (22), Humberto Coelho (22), Damas (24) e Toni (25) parecia garantir uma seleção para os anos que se seguiam. Viajaram, portanto: guarda-redes – José Henrique (Benfica), Damas (Sporting) e Mourinho (Belenenses); defesas – Artur (Benfica), Humberto Coelho (Benfica), Laranjeira (Sporting), Messias (Benfica), Adolfo (Benfica) e Murça (Belenenses); médios – Jaime Graça (Benfica), Peres (Sporting), Toni (Benfica) e Matine (V. Setúbal); avançados – Nené (Benfica), Chico (Sporting), Artur Jorge (Benfica), Abel (FC Porto), Eusébio (Benfica), Dinis (Sporting) e Jordão (Sporting). 

O primeiro jogo, disputado no Estádio do Lagoão, em Natal, tornou-se fácil: 3-0 ao Equador, com golos de Eusébio, Dinis e Nené. 

O Recife foi a paragem seguinte. No Estádio Arruda, de Santa Cruz, o adversário foi oIrão, tal como será, agora, 46 anos depois, em Saransk, na Rússia.

Simples e eficiente

Dia 14 de junho: Portugal contra esse Irão que tinha nomes históricos do futebol do país com Parvi Ali, Iran Pak ou Karbayan, foi simples e eficiente. Enfim, o que se deseja que seja também, na próxima segunda-feira. Logo aos 13 minutos, Eusébio, que vivia, aos trinta anos, aquilo que os ingleses gostam de chamar um Verão Indiano, pleno de força fez o 1-0. O capitão da seleção nacional recebeu um passe de Dinis, o Brinca na Areia, e fugiu para a baliza de Nasser sem que qualquer iraniano fosse capaz de o travar. 

A superioridade lusitana era de tal ordem que permitiu a Peres, Eusébio, Dinis e Nené ensaiarem uma fase de passe e repasse que dava gosto aos brasileiros nas bancadas, sempre tão ansiosos por tabelinhas e movimentos do género. Aos 30 minutos, foi a vez de Dinis marcar, tal como acontecera na partida inaugural. 

Depois, o ritmo perdeu-se e a competitividade também. José Henriques, o Zé Gato da malta, só não precisava de aquecer porque a tarde estava morna.Tão morna como a segunda parte escorrendo lentamente ao ritmo dos ponteiros dos minutos. Humberto Coelho fechou a conta, aos 70 minutos, e o primeiro Portugal-Irão da história praticamente não teve história.

A equipa de José Augusto chegaria à final, com uma vitória extraordinária frente à Argentina (3-1) pelo meio. Depois, no último minuto do jogo decisivo, oBrasil ficaria com a taça graças a um golo de Jairzinho. Pelé já não jogava a seu lado…